— Mas quem é que ainda cai nisso?
Quando ouviu a indagação do marido, uma idosa, moradora da Capital, ficou quieta. O aposentado acabara de ler a reportagem publicada em GaúchaZH sobre o golpe do book fotográfico aplicado no Centro Histórico. Não sabia, no entanto, que a mulher tinha sido uma das vítimas. Somente nesta quarta-feira (31) mais 11 idosas procuraram a Polícia Civil. Entre elas, a aposentada. Com esses novos casos, já são pelo menos 44 os registros.
Enquanto aguardavam para registrar ocorrência, no fim da tarde, na Delegacia do Idoso, as mulheres compartilhavam histórias. Aos poucos, quando iam descobrindo que as outras tinham passado pelo mesmo, venciam o constrangimento de terem sido ludibriadas.
— Não contei para ninguém da minha família. Morro de vergonha de ter sido enganada — diz uma aposentada, de 72 anos.
Outra, de 73 anos, acompanhada do marido pedia insistentemente para que ele guardasse o álbum com as fotografias. Quer esquecer o que passou, em agosto deste ano. Aos 74 anos, uma delas só soube do golpe quando procurou a galeria onde foram feitas as fotografias. Esteve lá na tarde de terça-feira (30), mas a sala estava fechada. Soube então que o local tinha sido alvo de operação da Polícia Civil poucas horas antes. Foi aí que se deu conta que tinha sido mesmo enganada.
— Me considero esclarecida. Quando o rapaz me abordou na rua, prometendo um brinde e fotos de graça, eu disse: isso é golpe. Mas ele me convenceu — relata.
A idosa foi vítima dos golpistas na semana passada. Pagou pelas fotos R$ 1,4 mil em 12 parcelas. O valor do prejuízo varia de acordo com o que cada vítima pode pagar. A polícia já recebeu registros de idosas que pagaram até R$ 4,5 mil.
Na delegacia para registrar um caso, outra aposentada, de 63 anos, constatou que também tinha sido vítima do golpe. No caso dela, no entanto, acabou não sendo lesada financeiramente.
— Fiquei duas horas lá dentro me maquiando, tirando fotos. Mas eu não tinha como pagar, não tinha dinheiro e nem cartão. Saí correndo desesperada. Só depois me dei conta que ainda estava com um brinco deles — recorda.
Perícia vai analisar materiais apreendidos
Durante a Operação 15x21, que cumpriu mandados de busca em 15 estúdios no centro da Capital na terça-feira (30), ninguém foi preso, mas a polícia recolheu materiais e documentos para análise, que auxiliarão na investigação. Até perfumes e aromatizantes encontrados nos estúdios serão periciados.
— Algumas vítimas relataram que se sentiam inebriadas. Vamos encaminhar para análise para saber se pode ter alguma substância para confundir mentalmente a vítima — afirma a delegada Larissa Fajardo, da Delegacia do Idoso, responsável pela investigação.
Computadores, documentos e outros materiais apreendidos também estão sendo analisados. A polícia tenta identificar os proprietários desses estúdios. Os golpistas devem responder por estelionato contra idosos e por extorsão, já que as vítimas eram coagidas a fazerem o pagamento.
Fique atento
Como funciona o golpe:
Aliciadores, em geral mulheres ou homens jovens, abordam idosas, com cerca de 70 anos na rua. Prometem brindes, maquiagens e fotos de graça. Assim são convencidas a ingressar nesses prédios comerciais, onde estão os pequenos estúdios. Lá, fazem diversas fotos. Na hora da saída, no entanto, vem a cobrança, com valores exorbitantes. As vítimas são coagidas a fazerem o pagamento.
Como evitar:
O principal meio de se proteger é não conversar com estranhos. Não dar oportunidade para os golpistas. Eles têm capacidade de persuasão muito grande. Quando as vítimas se dão conta, já estão dentro do estúdio fotográfico.
Onde denunciar:
Quem foi vítima de algum golpe, deve procurar a Polícia Civil. Na Capital, o registro pode ser feito nas delegacias distritais ou na Delegacia do Idoso, localizada na Avenida Ipiranga, número 1.803.