Quando percebeu que dois homens armados se aproximavam, escondidos, do seu carro, o motorista do aplicativo Uber, de 22 anos, não pensou duas vezes: arrancou e nem pensou no risco de ser baleado pelas costas. Ele estava em Viamão e tinha bem presentes na memória os relatos de colegas que têm passado por maus bocados ao menos desde setembro do ano passado, quando o aplicativo passou a trabalhar com o pagamento em dinheiro.
A polícia não tem levantamentos específicos de roubos contra motoristas de aplicativos, mas somente nesta semana, dois foram mortos, um baleado durante um roubo e outro rendido e levado até a sua casa por assaltantes.
– Há algumas semanas estamos tentando uma reunião com as autoridades da segurança pública do Estado e também com os gestores dos aplicativos. Todo aquele risco que antes víamos acontecer com os taxistas, agora, acontece conosco – aponta o presidente do sindicato dos motoristas por aplicativos, Reinaldo Ramos.
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Por enquanto, os planos de segurança do sindicato não passam de propostas. As principais são duas: a instalação de botão antipânico, com a ideia de que os gestores dos aplicativos dividam o custo. Outra é o fim dos pagamentos das corridas em dinheiro – faz parte da regulamentação proposta pela prefeitura de Porto Alegre ainda não votada na Câmara de Vereadores.
Na madrugada da última segunda-feira (24), um dos pelo menos 12 mil motoristas por aplicativos do Estado foi rendido por dois passageiros que haviam embarcado no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, e levado até o bairro Sarandi. Depois de ser ameaçado de morte, foi amarrado e baleado na barriga. Os bandidos fugiram com o carro, R$ 140 e o celular da vítima.
Já na noite de quarta-feira (26), um motorista foi levado de Estância Velha até a casa da própria família, em Dois Irmãos, no Vale do Sinos, onde os criminosos roubaram armas do pai da vítima, que é colecionador.
O próprio presidente do sindicato, que atua desde novembro de 2015 no aplicativo, já teve o carro roubado três vezes. Recuperou graças ao sistema de rastreamento que instalou no veículo.
– Pensamos em restringir áreas de atendimento em virtude das regiões conflagradas, mas eu, por exemplo, nas três vezes que levaram o meu carro, fui vítima nos bairros Petrópolis, Bela Vista e Auxiliadora. Levaram carro, dinheiro e celular. Sorte que eu sempre tenho um celular mais velho escondido, que é onde deixo o localizador do rastreador. Mas isso é custo – comenta o motorista.
O medo tem afastado interessados no serviço. Entre os motoristas, a constatação é de que a média de permanência no Uber tem sido de apenas três meses.
– Comecei em janeiro no Uber e não fiquei um mês. Mudei para o Cabify porque achei mais seguro – diz um motorista de 32 anos.
De acordo com o comandante interino do policiamento da Capital, tenente-coronel Marcelo Pitta Domingues, não há uma ação específica para coibir assaltos ao Uber, mas uma estratégia ampla.
– Estamos intensificando as barreiras e analisando ocorrências criminais para planejá-las. Há uma dificuldade para o policiamento, e uma facilidade para bandido, no fato de que os carros de aplicativos não são adesivados – afirma o oficial.
O que diz a empresa
A reportagem contatou a Uber e fez uma série de questionamentos. Entre eles, quantos motoristas atuam no Estado, quais medidas estão sendo tomadas devido à insegurança e outros assuntos. Confira as perguntas e as respostas abaixo.
Como a empresa tem recebido essas informações de violência contra os motoristas? Alguma medida já foi tomada? Há algum exemplo no Brasil, ou fora daqui, de medidas tomadas pela Uber, ou em parceria com autoridades locais, que tenham reduzido a violência contra os motoristas?
A Uber tem trabalhado em vários produtos específicos para o Brasil. Lançamos, recentemente, uma ferramenta de verificação de identidade que exige que usuários que fizerem o pagamento de suas viagens em dinheiro insiram o seu CPF antes de ter acesso ao aplicativo.
Isso vai se juntar às demais medidas de prevenção de risco que implementamos no ano passado para aprimorar o mapeamento de usuários suspeitos antes de fazerem viagens. Vale lembrar que, de acordo com os termos de uso, as contas dos usuários são pessoais e intransferíveis. Além disso, é importante frisar que a Uber sempre trabalha junto com as autoridades, nos termos da lei.
Nenhuma viagem na Uber é anônima e todas são rastreadas por GPS. Isso permite, por exemplo, que em caso de incidentes nossa equipe especializada possa dar o suporte necessário, sabendo quem foi o motorista parceiro e o usuário, seus históricos, e qual o trajeto que foi feito, sempre respeitando a legislação aplicável (em especial o Marco Civil da Internet). A Uber tem camadas de tecnologia que agregam segurança antes, durante, e depois de cada viagem:
Antes
Antes de se iniciar qualquer viagem, todos os usuários da Uber devem necessariamente se cadastrar na plataforma. É necessário inserir cartão de crédito, débito ou CPF antes de ter acesso ao aplicativo.
Durante
Os motoristas parceiros contam com um número de telefone 0800 para casos de emergência. Além disso, na Uber não existem viagens anônimas – todas as viagens são rastreadas utilizando GPS.
E depois de cada viagem
Tanto para o motorista parceiro quanto para o usuário, a "avaliação mútua" após cada viagem é um ponto importante, pois é o grande balizador da qualidade do serviço prestado pelos motoristas parceiros da Uber. Além de ser anônima, é ela que garante que a plataforma mantenha-se saudável tanto para motoristas parceiros quanto para usuários. Os motoristas precisam ter média mínima de 4,7 (em uma escala de 1 a 5 estrelas) para continuar na plataforma. Lembrando que o usuário também pode ser desconectado da plataforma se tiver uma média baixa de avaliações ou conduta que viole os termos de uso.
Os parceiros contam também com uma equipe de suporte que analisa todos os incidentes, caso a caso. Mais do que isso, em casos de investigações policiais, colaboramos com as autoridades nos termos da lei.
Como é feito o controle do histórico criminal dos motoristas que se cadastram na empresa? Ainda há garantia de que não têm antecedentes criminais?
Para se cadastrar como motorista parceiro, é preciso ter carteira de motorista com licença para exercer atividade remunerada – EAR, e passar por checagem de antecedentes criminais. Os carros precisam ser cadastrados com a apresentação de Certidão de Registro e Licenciamento do Veículo, bilhete de DPVAT do ano corrente.
A empresa estuda restringir o atendimento, excluindo áreas conflagradas das cidades?
Nossa missão é oferecer transporte acessível a todas as pessoas em todos os lugares, ao toque de um botão. Há alguns locais específicos em que o nosso serviço não está disponível no momento devido a questões de segurança pública.
Hoje são quantos motoristas cadastrados no Rio Grande do Sul? E em quais municípios a Uber já atua aqui?
Mais de 50 mil motoristas parceiros no Brasil. Porto Alegre, Novo Hamburgo, Caxias do Sul e Serra Gaúcha (Gramado, Canela, Nova Petrópolis e São Francisco de Paula).