Vítima do golpe que faz a pessoa entregar o próprio cartão de crédito e a senha a criminosos, um aposentado de 90 anos lamenta ter sido trapaceado pelos criminosos e ter perdido R$ 16,3 mil.
Deflagrada na manhã desta quarta-feira pela Polícia Civil, a Operação Privilege tem como alvo uma quadrilha que faz ligações a partir de São Paulo, identifica-se como a operadora de cartão de crédito e informa a pessoa de que houve uma compra fora do seu padrão. Do outro lado da linha, a vítima, convencida de que está falando com a central de segurança do cartão ou do banco, fornece a senha e entrega o próprio cartão ao braço da quadrilha em Porto Alegre.
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Em cinco meses, a investigação apurou crimes de estelionato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Nesta quarta-feira, a operação cumpriu 12 mandados de prisão temporária e 11 de busca e apreensão em Porto Alegre, Viamão e na cidade de São Paulo.
Durante mais de duas horas, o criminoso fez uso de gravações idênticas aos de uma central telefônica para conseguir a credibilidade da vítima:
– (Me senti) Perfeitamente seguro, eu estava falando com o banco. A tal ponto que lá pelas tantas ele disse que o banco iria me passar outra senha e ele me passou uma nova senha – afirma que a vítima que prefere não se identificar.
O que o senhor lembra do dia em que recebeu a ligação da quadrilha?
Eram 15h30min, o telefone fixo tocou e eu atendi. Os cartões do Banco do Brasil são frequentemente clonados, só o ano passado aconteceu três vezes comigo. Ele disse que era da segurança do Banco do Brasil e perguntou se eu tinha feito uma compra de R$ 1,8 mil em uma empresa de um shopping. Respondi que não. Então disseram que meu cartão estava clonado e que tinham feito uma parceria com a Polícia Civil para identificar uma quadrilha de estelionatários que estava agindo em Porto Alegre.
Por que o senhor não teve dúvidas de que era uma ligação do banco?
Eles começaram a dizer todos os meus dados, CPF, número da conta do banco, a agência, meu endereço. Isso me deu um grau de credibilidade grande, especialmente porque a mensagem é idêntica a que o banco faz. Me enrolou efetivamente durante mais de duas horas. Lá pelas tantas, ele pediu para eu fazer uma carta de próprio punho dizendo que concordava que a polícia investigasse o caso e que cortasse o cartão ao meio, preservando o chip. Coloquei isso num envelope e entreguei para o motoboy Diego.
Durante a ligação o senhor se sentiu seguro?
Perfeitamente seguro, eu estava falando com o banco. A tal ponto que lá pelas tantas ele disse que o banco iria me passar outra senha e ele me passou uma nova senha. Eles são extremamente habilidosos. Não quero desculpar a minha falha, mas eles realmente são experientes.
Quando tempo depois da ligação o motoboy chegou na sua casa?
Foi questão de 15, 20 minutos.
O senhor teve algum diálogo com o motoboy?
Nenhum. Perguntei o nome e entreguei o envelope. Posteriormente fui saber que eles tinham feito duas compras de celulares em um shopping da Capital e que tinham comprado em uma empresa de um nome estranho, alguma coisa que não foi especificada. Depois, localizamos o endereço dessa empresa e vimos que ela não existe. Quando eu vi estava com o prejuízo de 16,3 mil. As operações ocorreram todas no mesmo dia, em questão de horas.
A partir do momento em que o senhor entregou o cartão para o motoboy, quanto tempo depois começou a parceber as operações feitas pelos criminosos?
Quando consultei pela internet minha conta bancária e constatei que haviam essas despesas que eu não tinha feito. Imediatamente fui ao banco, mas ele (o banco) não me deu solução. Resolvi, então, acionar a polícia.
Como foi o seu contato com o banco?
Disse que estava preocupado, fiz minha defesa, encaminhei para o gerente. Fiz um depoimento e o banco negou o pagamento porque eu tinha fornecido a senha e entregado o cartão com o chip.
O senhor fez algum contato com a operadora do cartão?
Não. Fui na 3ª Delegacia, quando contei para inspetora, eles logo se deram conta que já havia outros casos parecidos.
Como senhor se sente hoje, dia em que a polícia deflagrou uma operação para acabar com a quadrilha?
Estou de alma levada, não deixo de me culpar por ter caído no golpe, mas pelo menos muita gente não vai mais cair.
Qual lição que o senhor tira de toda essa situação?
Cuidado com o telefone. Estamos dentro de um furacão de desinformações, eu recomendo cuidado em todos os sentidos.
Operação Privilege
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Jeniffer Gularte
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