"Viver é arte, errar faz parte, o tempo não volta, mas o mundo dá voltas." A frase legendou a última foto postada por Rafinha Silva, 17 anos, no seu perfil do Facebook, antes de ser brutalmente assassinada com 17 tiros, às 21h30min de terça-feira, no limite entre os bairros Cidade Baixa e Menino Deus, em Porto Alegre. Ela foi identificada pela polícia como Shaiene da Silva Machado.
Rafinha Silva, nome social pelo qual a adolescente preferia ser chamada, ainda foi arrastada por cerca de 60 metros após parte do corpo ou da roupa engatar debaixo do carro dos atiradores, que passou em cima da vítima de ré.
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Fazia apenas dois meses que tinha retornado a Porto Alegre. Moradora do bairro Santa Tereza, na Vila Cruzeiro, a adolescente havia deixado a Capital para morar com familiares na Região Metropolitana. Como ficou à própria sorte após a morte da mãe, em dezembro do ano passado, e não queria morar com os irmãos, acabou aceitando o convite de um parente. Mas a estadia não durou muito tempo, pois Rafinha preferia viver por conta. Recebia pensão do pai, que morreu de câncer quando ela tinha 13 anos.
A perda do pai, que era funcionário público, desestabilizou a vida da mãe, que acabou sofrendo de depressão. A mulher chegou a ser presa por motivo que não foi bem entendido pela família e morreu dois meses após ganhar a liberdade, por problemas respiratórios. A adolescente, que já tinha gosto pela independência, passou a tomar conta da própria vida.
– Os irmãos tentaram ajudar, os amigos também, mas ela não quis – lamentou um familiar.
Pessoas próximas, que preferiram não ser identificadas, disseram que ela não tinha envolvimento com o tráfico de drogas, mas que conservava amizades no meio. O fato de ter estreitado laços com pessoas de grupos rivais pode ter motivado a morte, suspeitam.
– Quando os pais eram vivos, teve tudo do bom e do melhor. Posso dizer que ela foi feliz – limitou-se a dizer um parente.
O velório e o enterro foram bancados pelo dono de uma funerária que se comoveu com a brutalidade do crime e entendeu que a família não tinha condições de pagar. A família preferiu não divulgar local e horário do sepultamento.
Pelo menos 17 tiros, a maioria no rosto
A forma como a adolescente foi executada impressionou a polícia. De acordo com o delegado da 2ª DHPP, Adriano Melgaço, já se sabe que pelo menos 17 tiros foram disparados contra a jovem. Boa parte dos disparos a atingiu no rosto e pelo menos três foram pelas costas. Na cena do crime, foram encontrados estojos de munições de calibre 380 e 9 milímetros.
A vítima teria sido abordada na esquina da Rua Barão do Gravataí com a Travessa Pesqueiro, onde foram efetuados os tiros. Em seguida, teria sido arrastada por cerca de 60 metros pela Barão do Gravataí até a esquina com a Múcio Teixeira, onde o corpo foi abandonado.
– Foi delito com brutalidade tendo em vista a quantidade de tiros que chegaram a atingir o rosto da vítima e por a cena do crime indicar que ela pode ter sido arrastada após a morte – avaliou.
Segundo o Departamento Médico-Legal, não há fratura de membros. Câmeras de monitoramento da rua mostram o carro dando ré sobre o corpo, momento em fica preso ao carro e é arrastado. Após efetuar disparos, os assassinos fugiram num Gol escuro. Ainda não se sabe quantas pessoas participaram da execução.