Um áudio divulgado nesta quarta-feira (27) mostra o menino Bernardo sendo ameaçado pela madrasta e pedindo socorro, tudo isso na frente do pai, o médico Leandro Boldrini. O material foi anexado ao processo na semana passada e mencionado em audiência na Justiça de Três Passos ontem.
O vídeo foi feito pelo celular do médico. Depois da morte do garoto, as imagens foram apagadas, mas recuperadas pela polícia.
O trecho que mais chama atenção é do momento em que Boldrini manda o filho calar a boca e a madrasta, Graciele Ugulini, diz que ele vai para debaixo da terra antes dela.
"Eu não tenho nada a perder, Bernardo. Tu não sabe do que eu sou capaz. Eu prefiro apodrecer na cadeia a viver nesta casa contigo", diz Graciele em um trecho da discussão. Depois ela diz: "Vamos ver quem vai para baixo da terra primeiro". Antes, Bernardo pede socorro várias vezes.
Outra parte do material, que não foi divulgada, mostraria o menino recebendo maus tratos, sendo dopado e até mesmo sendo instigado a pegar um facão das mãos do pai.
A defesa de Leandro Boldrini disse que as imagens não comprovam qualquer situação que envolva crime ou assassinado. O advogado Jader Marques afirma que, apesar de fortes e passíveis de censura, as cenas revelam péssima relação entre pai e filho.
Confira a transcrição do áudio:
Bernardo: Socorro, socorro.
Leandro: Vamos se acalmar. Vai para o quarto.
Bernardo: Socorro (...) vai me agredir. Socorro, socorro, socorro, socorro.
Graciele: (...) Vai lá, vai lá pedir socorro, vai lá. (...) Tu que tá gritando.
Bernardo: Vão vocês!
Leandro: Quem é que começou a bagunça?
Bernardo: Vocês me agrediram, tu me agrediu.
Graciele: E vou agredir mais. A próxima vez que tu abrir a boca para falar de mim, eu vou agredir mais.
Leandro: Xingando ela. Ninguém merece ser xingado, rapaz.
Graciele: Eu vou agredir mais, eu não fiz nada em ti.
Bernardo: Fez sim. Tu me bateu.
Graciele: Tu não sabe do que eu sou capaz de fazer.
Bernardo: Tu me bateu.
Graciele: Tu não sabe.
Bernardo: Tu me bateu.
Graciele: Eu não tenho nada a perder, Bernardo. Tu não sabe do que eu sou capaz. Eu prefiro apodrecer na cadeia a viver nesta casa contigo incomodando. Tu não sabe do que eu sou capaz.
Bernardo: (...) Queria que tu morresse.
Graciele: Tu não sabe do que eu sou capaz. Vamos ver quem tem mais força. Aí nós vamos ver quem tem mais força.
Bernardo: Quando tu morrer.
Graciele: É, vamos ver quem vai pra baixo da terra primeiro
Bernardo: Tu. Tu vai.
Graciele: Então tá, se tu está dizendo.
Caso Bernardo
Bernando Uglione Boldrini, 11 anos, foi encontrado morto no dia 14 de abril, após dez dias desaparecido. O corpo do jovem estava em um matagal, enterrado dentro de um saco, na localidade de Linha São Francisco, em Frederico Westphalen. O menino morava com o pai, o médico-cirurgião Leandro Boldrini, a madrasta, Graciele Ugulini, e uma meia-irmã, de 1 ano, no município de Três Passos.
O pai, a madrasta e uma amiga dela, Edelvânia Wirganovicz, respondem na Justiça por homicídio quadruplamente qualificado (motivos torpe e fútil, emprego de veneno e recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. O irmão de Edelvânia, Evandro, também responde por ocultação de cadáver. O pai de Bernardo ainda é acusado por falsidade ideológica.