Embora os novos casos de pessoas infectadas com HIV no Rio Grande do Sul tenham caído, o Estado ainda apresenta um índice quase duas vezes superior ao do país. A cada 100 mil gaúchos, 38,3 descobriram o vírus em 2014, enquanto a taxa nacional é de 19,7.
A "liderança" negativa do Estado no ranking do vírus é histórica e preocupa a Secretaria da Saúde gaúcha. O órgão divulgou nesta sexta-feira o Boletim Epidemiológico 2015, documento que traz dados do último ano sobre HIV, Aids e sífilis.
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O relatório informa dados de detecção desde 2003, quando o Rio Grande do Sul registrou 41,8 novos casos de HIV para cada 100 mil habitantes. Em comparação com o último ano, houve uma queda de 8,3%. A redução foi semelhante no país, onde 21,6 pessoas descobriram o HIV em 2003 em um grupo de 100 mil.
No Brasil, a estimativa é que 734 mil pessoas vivam com o vírus, o que representa 0,4% da população. No Rio Grande do Sul, estima-se que 0,8% dos habitantes sejam soropositivos.
- Sempre se fala que o Estado faz as notificações adequadamente, mas não podemos afirmar que essa seja a razão (para as altas taxas). Existe um fator comportamental, que vamos estudar (em 2016) - afirmou o secretário da Saúde, João Gabbardo dos Reis.
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Já para o infectologista e professor da UFRGS Eduardo Sprinz, as altas taxas representam a falta de acesso à saúde pública. O especialista sugere um mapeamento regionalizado das áreas onde há maior incidência do vírus e um serviço de testagem nesses locais.
- As pessoas socialmente excluídas não têm acesso aos serviços de saúde, então é preciso ir aonde elas estão - informa o médico.
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Além da queda nos novos casos, a mortalidade também vem diminuindo no país e no Estado. O Brasil passou de 6,4 óbitos por cada 100 mil habitantes em 2003 para 5,7 em 2014. Já o Estado passou de 11,9 em 2003 para 10,6 no último ano. O diagnóstico precoce, a melhoria nos medicamentos antirretrovirais e o maior acesso a eles são os fatores apontados para a redução nos óbitos.
Heterossexuais são os mais infectados
Entre as categorias de exposição, o predomínio é em heterossexuais. Em 2014, o grupo representou 76,5% das infecções registradas, contra 67% em 2004. Já os homossexuais representaram 12,8% dos soropositivos que descobriram o vírus no último ano. Em 2004, eram 6,5% dos novos infectados. Já os bissexuais passaram de 4,3% em 2004 para 3,7% em 2014.
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O grupo dos usuários de drogas injetáveis foi o que mais caiu, passando de 19,2% dos infectados em 2004 para 4,5% em 2014. Isso não significa, no entanto, que o número de dependentes químicos caiu, conforme o secretário.
- Os usuários passaram das drogas injetáveis para outros tipos, como o crack - afirmou Gabbardo.
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Sobre a possibilidade de realizar um mapeamento dos usuários de crack com HIV no Estado, como faz o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) no país, Gabbardo informa que não há planejamento da secretaria. Conforme a Unaids, os usuários da droga representam 5% das pessoas que vivem com HIV ou Aids no Brasil.
A transmissão vertical, quando a mãe passa o vírus para o filho, representou 2,6% das detecções de HIV em 2014. As porcentagens foram arredondadas pela Secretaria da Saúde.
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Mesmo evitável, casos em crianças cresceram
Na contramão das detecções de soropositivos na população em geral, a taxa do vírus em gestantes é um indicador que vem crescendo no país. Em 2000, eram 0,6 casos para cada mil nascidos vivos, contra 2,3 em 2014. No Rio Grande do Sul, o índice passou de 1 caso para cada mil nascidos vivos em 2000 para 8,1 em 2014. Em números absolutos, isso representa um salto de 184 para 1.142 mulheres.
Esse aumento pode ser devido à obrigatoriedade das redes de saúde de realizarem testes em duas fases da gestação: antes do pré-natal e antes do parto. A médica Maria Letícia Ikeda, que atende soropositivos no Hospital Sanatório Partenon, explica que os exames são realizados pois existem procedimentos que podem evitar a transmissão do vírus para a criança tanto no pré-natal como antes do nascimento.
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Embora tenha apresentado queda histórica, o índice aumentou de 2013 para 2014. Em 2002, 19,3 crianças com menos de cinco anos foram detectadas com HIV para cada 100 mil habitantes, contra 7,2 em 2014 (queda de 62%). No entanto, em 2013 o Estado detectou 6,2 soropositivos nessa faixa etária, o que representa um aumento de 16% no ano passado.
Por ser uma infecção evitável, Sprinz afirma que o dado representa uma falha nas estratégias de saúde:
- Isso é o reflexo exato de porque os nossos índices de HIV são mais elevados, mostra que a população socialmente excluída não tem acesso à saúde, não faz o pré-natal - afirma Sprinz.
Quando a gestante realiza o pré-natal, o bebê tem menos de 2% de chance de ser infectado com o vírus. Já quando não faz, o risco aumenta para 25%, segundo o médico.
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Fernanda da Costa
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