O Rio Grande do Sul contabiliza quase 200 mil pessoas em falta com a segunda dose das vacinas contra a covid-19, de acordo com levantamento realizado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES). O número de abstenções fez a pasta reforçar, junto aos municípios, a necessidade de um trabalho de busca ativa, a fim de contatar os indivíduos que ainda não completaram o esquema vacinal.
Segundo a apuração da pasta, até o último dia 30, o número de faltantes da segunda dose somava 199.358, e a maior parte, 121.908, é de aplicações de reforço não realizadas ou não registradas de CoronaVac. Dentro deste universo, pessoas dos grupos prioritários — idosos e profissionais da saúde — foram aquelas que deixaram de completar o esquema vacinal em maior quantidade.
Cabe observar, porém, que nem sempre os números registrados correspondem à realidade dos municípios. O descompasso, geralmente, ocorre em razão da mudança do local de vacinação, isto é, quando a primeira dose é tomada em um município e a segunda em outro, explica Maicon Lemos, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems) e secretário de Saúde de Canoas.
Porto Alegre, por exemplo, registrou esta semana 48,5 mil pessoas com a segunda aplicação em atraso, enquanto a SES contabiliza uma cifra 52% menor. Uma das hipóteses para essa diferença, segundo o diretor de Vigilância em Saúde da Capital, Fernando Ritter, é que a prefeitura não tem como verificar, pelo seu nível de acesso ao sistema informatizado de imunizações, quais as pessoas que receberam a primeira injeção na Capital e a segunda em outra cidade. A SES informou que não tem conhecimento de como a secretaria municipal realiza suas estimativas para poder explicar eventuais divergências.
Fora isso, algumas cidades também têm defasagem no abastecimento do sistema estadual, ou seja, os municípios não dão conta de registrar todos os vacinados na mesma velocidade em que aplicam as injeções. Apesar das discrepâncias, os faltantes são uma realidade que está sendo combatida pelas prefeituras por meio de diversas iniciativas, como descreve Lemos:
— Além das unidades volantes, que vão às residências das pessoas (nesta semana ocorreu nos dias frios), a busca ativa é realizada por enfermeiros, técnicos em enfermagem e, principalmente, pelos agentes comunitários de saúde. Eles estão trabalhando bastante, pois conhecem a comunidade onde estão inseridos e conseguem acompanhar os que não compareceram. Outro ponto é a comunicação dos municípios, que têm inovado, com rádio, televisão, programas comunitários e redes sociais.
Como funciona a busca ativa
Santa Maria, na Região Central, realizou, nesta semana, uma ação para aplicar as segundas doses. Os faltantes serão chamados novamente, em nova data, para completar o esquema vacinal.
Além dos mutirões, as unidades de saúde estão entrando em contato, por telefone, com os usuários atendidos nos locais. Algumas das justificativas recebidas durante as ligações para a ausência na segunda dose foram óbitos, viagens e internações.
Canoas, na Região Metropolitana, também trabalha com “dias D” voltados para a vacinação de quem está em falta e mantém à disposição da população o setor de imunologia do Hospital Universitário, de segunda a sexta, das 8h às 17h, para quem não tem a oportunidade de se vacinar nessas datas específicas, detalha Lemos.
Na Região da Campanha, em Bagé, a prefeitura está usando as redes sociais e a imprensa local para chamar as pessoas que ainda não completaram o esquema vacinal. Também há, quando necessário, uma intensificação no chamamento dos faltantes por meio dos agentes de saúde.
Pedras Altas, no Sul, faz um trabalho de porta em porta para a aplicação de vacinas na população com 60 anos ou mais e quilombola.
— Nosso município é constituído por 70% da população do interior, então, nossas equipes passam na estrada indo ao encontro das pessoas para vaciná-las. Temos, também, uma busca através dos agentes de saúde quando não encontramos o paciente — afirma Celso Acosta Caetano, secretário da Saúde do município, acrescentando que, fora a administração da segunda dose em casa para esses grupos, a prefeitura entrega às famílias um kit de higiene, composto de material informativo, água sanitária, álcool 70%, sabão e máscaras para todos os moradores das residências.
Porto Alegre reforça contato com faltantes
Com uma estimativa de faltantes menor do que foi divulgado, a prefeitura da Capital explica que parte dessas pessoas que constam como atrasadas já recebeu as duas doses. O que acontece, em alguns casos, é a ausência do registro no sistema. Tanto para fazer essa atualização como para chamar aqueles que, de fato, não se vacinaram, a administração iniciou um trabalho com as oito gerências distritais.
— Já fizemos o primeiro pente-fino nas gerências, que são um concentrado de unidades de saúde (US) e atuam como "minissecretarias". Agora, vamos passar para as US, olhando para o território e fazendo com que elas, os agentes comunitários de saúde e os outros profissionais entrem em contato com esses indivíduos a fim de incluir tudo no sistema e diminuir esse número de faltantes — diz Caroline Schirmer diretora da Atenção Primária à Saúde da Secretaria Municipal da Saúde.
Inicialmente, o trabalho de identificação de segunda dose não registrada ou não aplicada ocorre por telefone. No entanto, caso seja preciso, ele é feito presencialmente, com os agentes em campo.
Colaborou: Marcelo Gonzatto