Desde o começo de julho até a manhã desta terça-feira (20), 57% dos municípios gaúchos não tiveram registro de mortes em razão da covid-19. Conforme os dados oficiais da Secretaria Estadual da Saúde (SES), 284 cidades não apresentaram notificação de óbito por coronavírus nesse período tomando-se como critério a data de ocorrência.
Essas regiões livres de perdas para a pandemia nas últimas semanas são formadas principalmente por localidades de pequeno porte, mas já incluem municípios de tamanho médio como Taquara, no Vale do Paranhana, com 57,5 mil habitantes, ou Estrela, no Vale do Taquari, com 34 mil moradores.
A Secretaria Municipal de Saúde de Taquara confirma que a última vítima foi notificada em 28 de junho. A prefeita Sirlei Silveira acredita que o bom desempenho recente é fruto de um conjunto de ações que combina avanço da vacinação com testagem rápida de casos suspeitos e fiscalização de aglomerações.
— Abrimos um Centro Covid, onde os casos suspeitos são testados com resultado em 15 minutos. Além da vacinação, investimos na fiscalização contra aglomerações, inclusive à noite e em finais de semana — aponta Sirlei.
A média de atendimentos diários no Centro Covid caiu de 88 em junho, com seis exames positivos, para 60 neste mês, com uma média de confirmação de diagnósticos de apenas dois por dia. Pelo site de monitoramento da imunização da SES, a cidade atendeu 46,4% dos moradores com uma dose de vacina contra o vírus e 17,2% com duas. A média estadual é de 52,5% e 23%, respectivamente.
A situação geral do Estado, embora ainda preocupante, é bem menos dramática do que há pouco mais de três meses. Pelos registros disponíveis até o momento, quase dois terços das prefeituras gaúchas não informaram óbitos relacionados à pandemia em julho, contra 42,9% que notificaram 959 perdas ocorridas entre o dia 1º e o domingo (18). É uma situação bastante diferente em comparação a março, quando os gaúchos testemunharam o período mais violento da covid.
Nos primeiros 18 dias de março, para igualar os períodos de notificação, o Estado contabilizou 4.840 vítimas distribuídas entre 356 municípios gaúchos — o equivalente a 71,6% do Estado, contra 28,4% que não tiveram óbitos. Ou seja, a proporção de cidades sem notificação de mortes pela pandemia dobrou desde então.
Vale do Taquari reúne cidades de médio porte sem óbitos recentes
Além de Taquara, outros municípios de porte médio estão conseguindo manter os moradores a salvo do coronavírus por mais tempo no Estado. Dois deles chamam a atenção para o Vale do Taquari: Estrela, com 34 mil habitantes, e Teutônia, com 33 mil, igualmente não tiveram notificações desde o começo do mês. A prefeitura de Estrela, inclusive, faz questão de destacar nos seus boletins epidemiológicos diários que, entre as 70 vítimas já deixadas pela covid, a mais recente é de 7 de junho – quase um mês e meio sem más notícias.
Em relação a Teutônia, até a tarde desta segunda-feira, o último óbito foi divulgado publicamente no começo de julho, mas ocorreu ainda no mês anterior. A data do óbito é de 30 de junho. Desde então, até a realização deste levantamento, se manteve no mesmo patamar de 86 mortes em razão da pandemia.
É preciso levar em conta que podem ter ocorrido óbitos em algumas das cidades que ainda não foram formalmente registradas e, por isso, ainda não aparecem no sistema de monitoramento. Esse risco é mais alto principalmente em relação aos últimos dias. Por isso, para fazer o levantamento, GZH optou por selecionar um período de tempo mais longo a fim de reduzir o impacto estatístico desses possíveis episódios.
O município de Flores da Cunha se enquadra nesse tipo de situação, por exemplo: pela planilha oficial do Estado, a última vítima havia sido registrada no dia 25 de junho. Mas, de acordo com as redes sociais da prefeitura, no domingo (18), foi registrada mais uma morte (uma mulher de 86 anos). Essa notificação ainda não aparecia nas estatísticas oficiais consultadas por GZH, mas deverá ser incluída nas próximas atualizações.
Também foi dada preferência ao critério de contagem das mortes por data de ocorrência, e não de divulgação, porque é comum serem informados em uma data casos ocorridos semanas ou até meses antes em razão de atrasos no processo. Assim, se fosse usado o critério de data de divulgação, uma morte ocorrida muito tempo atrás poderia ser contabilizada de forma errônea como se tivesse acontecido agora.
Ainda que sujeito a imprecisões, o cenário desenhado pelos registros oficiais ajuda a confirmar a recente tendência de declínio na mortalidade causada pelo coronavírus no Rio Grande do Sul.