O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, assinará na manhã da quarta-feira (20) um documento com novas diretrizes que permitirão a utilização da cloroquina em pacientes em estágio inicial de contágio do novo coronavírus.
Apesar de o presidente e o ministério terem se referido ao documento a ser emitido como um novo "protocolo", o termo é equivocado. Normalmente, esse tipo de procedimento não é denominado dessa forma — em março, a pasta divulgou uma "nota informativa" quando fez a recomendação do uso para casos mais graves. Alterações de protocolos precisam do aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em live com o jornalista Magno Martins, o presidente ressaltou que o documento não obrigará nenhum paciente a ser medicado com a substância, mas dará a liberdade para que ele faça uso do remédio caso julgue necessário.
— O que é a democracia? Você não quer? Você não faz. Você não é obrigado a tomar cloroquina — disse. — Quem é de direita toma cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína — ironizou, referindo-se a uma marca de refrigerante.
A frase foi dita minutos depois de o Ministério anunciar que o Brasil chegou à marca inédita de 1.179 óbitos registrados por coronavírus em um dia.
O presidente ressaltou que se fosse o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, tomaria a substância. O político do PSB, que tem criticado a postura de Bolsonaro diante da crise sanitária, anunciou na segunda-feira (18) que foi diagnosticado com a doença.
— Eu acho que quem falou que era veneno, não pode tomar (cloroquina). Eu sou cristão. O governador pode tomar a cloroquina. Pode ser que não precise. Mas, no seu lugar, eu tomaria — afirmou.
A utilização da cloroquina para o tratamento do coronavírus ainda não tem evidências científicas que apontem eficácia. Atualmente, o protocolo adotado pela pasta prevê o uso do medicamento apenas por pacientes graves e críticos.
A divergência em torno do uso da cloroquina é apontada como o principal motivo da saída do oncologista Nelson Teich do comando da Saúde, na semana passada.
Na segunda (18), um estudo desenvolvido entre três das entidades mais envolvidas no cuidado a pacientes infectados por coronavírus divulgaram um documento com diretrizes para o tratamento da doença. Nele, a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia recomendam que a cloroquina não seja utilizada no tratamento da covid-19.
A conclusão sobre o medicamento é de que os especialistas entenderam que "as evidências disponíveis não sugerem benefício clinicamente significativo do tratamento com hidroxicloroquina ou com cloroquina".
Além disso, "houve entendimento de que o risco de eventos adversos cardiovasculares é moderado, em especial de arritmias. Até o momento, os estudos comparados existentes avaliaram pacientes hospitalizados somente, não havendo base para seu uso ou não em pacientes ambulatoriais".