Doença praticamente erradicada em países desenvolvidos, o câncer de pênis tem no Brasil estatísticas tão alarmantes quanto de nações assoladas pela pobreza, como países da África subsaariana. Um levantamento do Instituto Lado a Lado pela Vida mostra que, a cada ano, 1,6 mil brasileiros precisam amputar a genitália em razão da doença.
O assunto veio à tona na última quinta-feira (25), quando o presidente Jair Bolsonaro manifestou preocupação sobre o volume de amputações de pênis no país e fez um alerta sobre a necessidade de lavar o órgão com água e sabão.
— No Brasil, nós temos por ano mil amputações de pênis por falta de água e sabão. Quando se chega em um ponto desses, a gente vê que nós estamos realmente no fundo do poço — afirmou.
Segundo assessores presidenciais, o tema foi tratado recentemente com Bolsonaro pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A constatação do presidente conversa com a realidade. A falta de higiene é um dos principais fatores de risco para o câncer de pênis, que, por sua vez, é a única doença que pode levar à necessidade de amputação parcial ou total do pênis.
— É um dos poucos tipos de cânceres que é evitável — explica José de Ribamar Calixto, Coordenador de Câncer de Pênis e Testículo da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Calixto esclarece que a falta de lavagem na glande (a cabeça do pênis) pode levar ao surgimento de inflamações ou irritação, que vão desde coceiras até infecções graves por fungos e bactérias. Sem perceber o que ocorre, a vítima pode deixar o problema crescer até se tornar um tumor. Como agravante, esta doença pode se espalhar para as pernas e os órgãos vitais, agravando o quadro dos pacientes.
A fimose (que ocorre quando o prepúcio, que é a pele que cobre o pênis, é apertado e difícil de retrair) é um fator de risco que precisa ser levado em conta, e pode ser removido por circuncisão em algumas condições.
— As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) caminham lado a lado com este tipo de câncer, sobretudo quando causam o HPV — afirma o urologista Aguinaldo Nardi, membro do comitê científico do Instituto Lado a Lado pela Vida.
Este tipo de doença é mais comum em localidades pobres, em que há falta de informação sobre cuidados com a saúde e estruturas mais precárias de atendimento à população. A SBU verificou que apenas um hospital do Maranhão teve, em média, 40 amputações por ano na última década, o que leva a crer que a estatística mencionada por Bolsonaro (que, conforme a SBU, é baseada em dados do Datasus e deixa de considerar casos da rede privada) é ainda maior.
— Há algumas cidades no Norte e no Nordeste do país em que o câncer peniano é maior do que os casos de próstata — aponta Nardi.
Como evitar o câncer peniano
Lave corretamente
A limpeza envolve puxar o prepúcio até o aparecimento total da glande (a cabeça do pênis). Durante o banho, passe água com espuma de sabão ou sabonete sobre a superfície da mucosa suavemente, até sair toda a camada de gordura acumulada. Essa gordura, chamada esmegma, são células descamadas da pele e óleos produzidos por glândulas penianas, e precisa ser retirada completamente para que seja afastado o risco de proliferação de bactérias e fungos.
Tome banho depois do ato sexual
A limpeza neste momento ajuda a remover resíduos de sêmen e excesso de lubrificante do preservativo. A higiene também serve para retirar o muco da lubrificação natural da mulher junto com resíduo após a ejaculação, já que ambos são ricos em substâncias que servem para propagação de bactérias e fungos.
Use sempre o preservativo
Além da prevenção contra o vírus HIV e as demais doenças sexualmente transmissíveis, o preservativo impede a contração de doenças como HPV, gonorreia e sífilis, doenças que vêm apresentando aumento no número de ocorrências no Brasil e podem ser o princípio para um quadro de câncer peniano.
Fique atento aos sinais
A falta de asseio adequado é um dos fatores de risco para a ocorrência de câncer de pênis. Fique atento a feridas persistentes, nódulos e edemas sólidos. Essa enfermidade causa secreções persistentes, acompanhadas de mau cheiro. Qualquer lesão na região peniana deve ser motivo para buscar a orientação de um urologista. O ideal é incorporar uma visita ao menos anual a esse médico.
FONTE: Aguinaldo Nardi, membro do comitê científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, e José de Ribamar Calixto, coordenador de Câncer de Pênis e Testículo da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).