Se fosse uma novela, o metrô de Porto Alegre seria um fracasso de audiência: longa, chata e com final infeliz.
Uma pesquisa rápida no Centro de Documentação e Imagem de Zero Hora mostra que implantar os trens subterrâneos é ideia antiga. Em 1990, a Trensurb já trabalhava em uma expansão pela Assis Brasil até o Porto Seco, na Zona Norte. Na linha do tempo do metrô, poderia ser considerada a pré-História: ainda que em 1992 o Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bird) tenha se interessado, apenas em 1997 a ideia chegou a um novo patamar. Foi quando o governador do Estado, Antônio Britto e o então ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, anunciaram o lançamento do edital para licitação.
Com o fim do governo FHC, a ideia voltou à prancheta. E a história se repetiu, monótona: a cada governo, um protocolo de intenções era assinado com cerimônia. Um grupo de trabalho era montado. Os lobbies em Brasília, reativados. Eventualmente, empresas apresentavam projetos. E traçados eram definidos e modificados conforme os ventos.
Se em 1997 quem morasse na Cristóvão Colombo teria uma estação perto de casa, em 2007 estaria muito longe do metrô, cujo trajeto agora passava pela Borges de Medeiros e até a UFRGS pela Bento Gonçalves.
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Dois anos depois, a mesma linha seria esticada até o Beira-Rio para caber no PAC da Copa de 2014 – e até o Olímpico, já que estamos no Estado do Gre-Nal. A ideia não durou muito: naquele mesmo 2009, o governo federal descartou a inclusão da obra no pacote do Mundial.
Estaca zero? Que nada. Começava ali a Idade Moderna do metrô gaúcho: o projeto foi refeito, a Zona Sul, abandonada, a Zona Norte, reabilitada. Do Centro, o metrô iria até a Fiergs, com 14 quilômetros de extensão. Em 2011, em outra cerimônia, o governo federal ofereceu recursos em outra cerimônia, desta vez com Dilma Rousseff. União, Estado, município e investidores privados dividiriam a conta de R$ 4,8 bilhões.
A partir dali, a novela ficou mais animada – para quem gosta de burocracia. Em 2013, o projeto perdeu 4,5 quilômetros para ficar mais barato: em vez de seguir pela Assis Brasil até a Fiergs, parava no Triângulo. No ano seguinte, uma das empresas que apresentou propostas sugeriu reabilitar o trecho.
Com o aprofundamento da crise, governos estadual e municipal avisaram: não teriam dinheiro. Em 2016, foi a vez de Eliseu Padilha, de novo ministro, avisar: metrô, só com parceria público-privada.
No início de 2017, a pá de cal: o projeto não terá nenhum tostão público. Enquanto isso, os espectadores seguiram olhando – e não vendo graça alguma em uma novela que custou quase 30 anos de Porto Alegre.
* Editor de Porto Alegre