O Ministério Público (MP) junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu à Corte nesta sexta-feira (11) que investigue os gastos da viagem do secretário especial de Cultura, Mario Frias, a Nova York. Em dezembro do ano passado, Frias desembarcou na cidade norte-americana para uma estadia de cinco dias.
A investigação foi solicitada pelo subprocurador-geral do MP junto ao TCU, Lucas Rocha Furtado, para que o tribunal averigue "se a viagem custeada com recursos públicos possuía razões legítimas para existir atendendo ao interesse público ou se serviu para atender — às escusas da lei — interesse personalíssimo e privado". Na época, a viagem foi classificada como urgente pela secretaria.
"Sendo assim, defendo que quaisquer gastos públicos (mesmos em valores baixos) devam vir precedidos de justificativas que demonstrem a real necessidade — e legalidade — do uso desses recursos", disse Furtado.
Mario Frias esteve em Nova York para divulgar um "projeto cultural envolvendo produção audiovisual, cultura e esporte", como citado no Diário Oficial da União, ao lado do lutador de jiu-jítsu e bolsonarista Renzo Gracie, responsável pelo convite. Segundo levantamento feito pelo jornal O Globo, foram gastos R$ 39 mil na viagem de cinco dias. Desse valor, R$ 26 mil bancaram as passagens aéreas.
Frias viajou acompanhado de seu secretário-adjunto, Hélio Ferraz de Oliveira, que gastou outros R$ 39 mil. Ao todo, a viagem dos dois saiu por cerca de R$ 78 mil. Desse total, R$ 24 mil foram em diárias, R$ 12 mil para cada. Os dados são do Portal da Transparência.
Além da viagem, Frias e Oliveira foram ressarcidos pela União por testes de covid que custaram mais de R$ 1,8 mil cada. Os dados no Portal da Transparência mostram que os dois pediram e e ganharam o ressarcimento pela "realização de teste molecular diagnóstico para Sars-Cov-2". A informação foi divulgada nesta sexta-feira pelo colunista Lauro Jardim.
Furtado classifica os gastos como uma "verdadeira extravagância": "A situação aqui narrada constitui, à toda evidência, desrespeito ao zelo, parcimônia, eficiência e economicidade que sempre devem orientar os gastos públicos e impõe, sem dúvida, a intervenção desta Corte de Contas".
A viagem de Frias também foi alvo de pedido de investigação da bancada do PT na Câmara. O deputado Reginaldo Lopes (MG) entregou uma representação ao TCU e outra ao Ministério Público Federal do Distrito Federal para que eventuais abusos sejam investigados.
"Na verdade, o secretário de Cultura e seu adjunto, ora representados, gastaram vultosos recursos públicos para participarem de uma reunião presencial em outro país, atendendo a um convite particular, de interesse comercial de terceiros, formulado pelo empresário Bruno Garcia e pelo lutador de Jiu-Jitsu Renzo Gracie, para que os referidos agentes públicos fossem apresentados a um 'projeto cultural envolvendo produção audiovisual, cultura e esporte'", diz o documento protocolado pelo PT.
Em sua conta no Twitter, Frias postou, ainda na quinta-feira (10), que não pagou "essa quantia por essa viagem, não viajei de executiva e a finalidade da viagem não foi da forma como colocaram nas inverídicas manchetes". "Tenho todos os documentos que comprovam a mentira propalada por esses jornalistas e estamos avaliando notificá-los para prestar explicações, de forma judicial, sobre essas fantasiosas informações", escreveu o secretário, sem disponibilizar os documentos.