Aos 89 anos, morreu nesta quinta-feira (1º) Sereno Chaise, ex-prefeito de Porto Alegre cassado pela ditadura. Ele, que vinha tratando de uma insuficiência renal, estava internado no Hospital Mãe de Deus e teve falência múltipla dos órgãos. O velório teve início a partir das 18h no Cemitério Parque Jardim da Paz e o sepultamento será às 11h desta sexta-feira.
Braço direito de Leonel Brizola por mais de 55 anos, Chaise tornou-se um personagem marcante na história política do Estado. Trabalhista histórico, era filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 2001. Até 2015, foi diretor-presidente da Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE).
Filho do fazendeiro Agenor Chaise, um getulista fanático, Sereno nasceu em Soledade. Despertou para a política em 1946, quando ingressou na Ala Moça do PTB, na Capital. Foi lá que conheceu Brizola. A afinidade foi tanta que, dias depois, passaram a dividir quarto em uma pensão. Nos anos seguintes, a amizade se solidificou. Sereno coordenou a vitoriosa campanha de Brizola à prefeitura e, mais tarde, foi secretário na gestão do amigo no Piratini. Até que, em 1963, elegeu-se prefeito da Capital.
O mandato, porém, durou poucos meses. Em abril de 1964, Sereno foi preso pelos militares. Um mês depois, teve os direitos políticos cassados. No dia seguinte, cumpriu expediente na prefeitura. Enquanto aguardava os militares, limpava as gavetas. Mas ninguém apareceu. Então, reuniu os funcionários, despediu-se e saiu. Pela porta da frente.
Apesar da insistência do presidente deposto João Goulart e de Brizola, nunca pensou em exílio. E isso o fez ser preso mais vezes. Ainda em 1964, escreveu da cadeia uma carta ao povo: "Sou homem de atitudes claras: não tolero a violência, não pactuo com o arbítrio e não me conformo com as injustiças".
A cassação causou uma reviravolta em sua vida. Desempregado, advogou e até comandou restaurantes na Capital. Com a Anistia, em 1979, recuperou os direitos políticos e fundou o PDT ao lado de Brizola.
De protagonista de aliança histórica a vilão no rompimento com Brizola
Sereno presidiu a sigla no Estado de 1991 a 1999. A pedido de Brizola, costurou a aliança com o PT, em 1998, que levou Olívio Dutra (PT) ao Piratini. Dois anos depois, o enlace foi estopim para dar uma guinada em sua carreira política. Ao lado de militantes como Dilma Rousseff, Sereno apoiou Tarso Genro (PT) em vez de Alceu Colares (PDT) no segundo turno da eleição para a prefeitura.
O rompimento foi inevitável. Chateado com as críticas – inclusive de Brizola – e convicto de sua posição por considerar o projeto de Collares contrário ao trabalhismo de esquerda, Sereno escreveu uma carta ao "comandante", que se recusou a lê-la. Então, o ex-prefeito divulgou o texto na imprensa, criticando o velho amigo. Em 2001, a fotografia de Sereno foi sacada da galeria de honra do PDT. O retrato voltaria dois anos e nove meses depois ao diretório. Mas Sereno, não. Naquele ano, decidiu filiar-se ao PT.
Até então inabalável, a relação com Brizola estremeceu. Eles selaram trégua. Em 2004, quando o amigo morreu, Sereno deu sinais de que lamentava vê-lo partir sem que se reconciliassem:
– Sempre temi sofrer essa dor.
Para o ex-prefeito, que era casado com a advogada Rosane Zanella, fidelidade e lealdade sempre foram mantras. Chaise teve três filhos (um já falecido) do primeiro casamento e deixa sete netos
A trajetória de Sereno
1928
Em 31 de março, nasce em Soledade.
1946
Estudante, vira amigo de Brizola após conhecê-lo na Ala Moça do PTB.
1951
Elege-se vereador na Capital pelo PTB.
1954
Coordena a bem-sucedida campanha de Brizola à prefeitura.
1958
Eleito deputado estadual, se reelege no pleito seguinte.
1964
Em abril, três meses após assumir a prefeitura da Capital, é preso pelos militares. No mês seguinte, o regime cassa seus direitos políticos por 10 anos.
1979-1980
Recupera os direitos políticos com a Anistia. Com a volta de Brizola do exílio (abaixo, os dois em São Borja), participa da fundação do PDT.
1991
Assume a presidência do PDT no RS. Em 1994, concorre a governador e fica em quarto lugar.
2000
Ao decidir apoiar Tarso Genro (PT) em vez de Alceu Collares (PDT) para a prefeitura, rompe com Brizola e abandona o PDT. Em 2001, filia-se ao PT.
2003
Com a eleição de Lula, ingressa como diretor financeiro na Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE). Em 2006, vira diretor presidente da estatal.