A dupla investigação da Polícia Federal, envolvendo delações feitas em Curitiba e no Rio de Janeiro, sobre diferentes subornos para o ex-governador Sérgio Cabral, aponta que o mais famoso estádio de futebol do Brasil foi fonte de corrupção.
A Operação Calicute elenca propinas para a reforma do Maracanã, com vistas à Copa de 2014, como um dos motivos para a prisão de Sérgio Cabral. Outras obras são o denominado PAC Favelas e o Arco Metropolitano, financiadas ou custeadas com recursos federais. Em todas elas há participação das empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia, cujos dirigentes se transformaram em delatores na Justiça Federal.
O cálculo do Ministério Público Federal é que essas três obras – e também desvios ocorridos na usina nuclear Angra 3 – somam irregularidades que alcançam R$ 224 milhões.
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"Tal esquema consubstanciava o pagamento de expressivos valores em vantagem indevida por parte das empreiteiras ao ex-governador Sérgio Cabral e a pessoas do seu círculo para que fossem garantidos contratos de obras com o governo do Estado do Rio de Janeiro. Foi identificado que integrantes da organização criminosa de Sérgio Cabral amealharam e lavaram fortuna imensa, inclusive mediante a aquisição de bens de luxo, assim como a prestação de serviços de consultoria fictícios", aponta trecho da denúncia do MPF, reproduzida na ordem de prisão emitida pelo juiz Sergio Moro.
São apontados também desvios em decorrência do contrato celebrado entre a Andrade Gutierrez e a Petrobras, relativamente às obras de terraplanagem no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Nesse caso, o MPF assegura que existem provas de que Sérgio Cabral recebeu, entre os anos de 2007 e 2011, ao menos R$ 2,7 milhões da empreiteira Andrade Gutierrez. O dinheiro teria sido entregue em espécie, por executivos da empresa, para emissários do então governador, inclusive na sede da empreiteira em São Paulo.
O MPF diz que também há evidências da prática do crime de lavagem de dinheiro oriundo de crimes antecedentes. A investigação apurou, por exemplo, que apenas dois investigados, entre os anos de 2009 e 2015, efetuaram pagamentos em espécie, de diversos produtos e serviços, em valores que se aproximam de R$ 1 milhão.
O crime de lavagem prevê pena entre 3 e 10 anos de reclusão; o crime de corrupção, entre 2 e 12 anos e o crime de integrar organização criminosa, pena entre 3 e 8 anos.