Na sessão desta terça-feira, da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, viu-se uma cena estranha. De um lado, os vereadores Elisandro Fiuza (PRB) e Renato Nunes (PR), da base do governo, divagavam entre o silêncio e as saídas de fininho quando eram cobrados sobre a posição do prefeito Daniel Guerra acerca da possibilidade de a Secretaria de Esporte e Lazer ser anexada à Secretaria da Educação.
De outro lado, a comunidade esportiva, cultural e educacional, que participou da sessão, representada por Marialdo Rodrigues (Clube de Corredores de Caxias do Sul), Magali Quadros (Conselho Municipal de Política Cultural) e Juliano Cantarelli Toniolo (Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul). Grande parte do plenário estava ocupada por professores, alunos e a direção do IFRS.
O trio, que mostrava-se como salvaguarda da tríade que tem tido sua relevância minimizada, fez uma ampla defesa de cada uma das suas áreas. Mas aqui reside o estranhamento, cada um deles apresentou justificativas muito interessantes a respeito da transversalidade das suas áreas, que serviriam muito bem na fala de qualquer um dos líderes do governo, inclusive do prefeito Daniel Guerra.
Por exemplo, em seu discurso, Marialdo Rodrigues, do Clube de Corredores, disse que projetos como o Conviver, Mat Pilates e Jogos Adaptados, tem o objetivo de melhora da qualidade de vida, prevenção de saúde física e mental, além da integração social, demostrando como investir em esporte é investir em saúde.
Mas, ironicamente, a defesa do governo, através de Nunes, veio em forma de acusação, ou como diz o vereador Adiló Didomenico (PTB), "numa cortina de fumaça".
— Qual a fonte oficial de vocês? — questiona Nunes, dirigindo-se à plateia do plenário, para saber de onde as pessoas tiraram a informação de que se cogita a fusão das secretarias de Esporte e Educação?
— Do ex-secretário! — gritaram algumas pessoas da plateia, citando a carta de Paulo Gedoz de Carvalho, que revelou o motivo da sua saída da pasta porque, segundo ele, havia uma orquestração do governo para a fusão das secretarias da Educação e Esporte.
— Isso não é fonte oficial, ele é ex. Ex não é governo — rebateu Nunes.
A tréplica veio em dupla via. Primeiro, Adiló disparou:
— Não desqualifiquem alguém que tentou salvar um governo despreparado como o de vocês. Ele era do primeiro escalão do governo Guerra.
Na mesma via, o vereador Rafael Bueno (PDT), da tribuna, leu trechos da carta escrita por Carvalho, em que fica claro que havia a intenção de fusão das secretarias, como noticiou o jornal Pioneiro.
— Já que o senhor não leu na imprensa, aqui está a fonte oficial que o senhor queria saber — rebateu Bueno, dirigindo-se à Nunes, que estava visivelmente desconfortável na sessão de ontem.
Com quase 3h de sessão, foi a vez do líder do governo, Fiuza, entrar em cena, e procurar amenizar as dissonâncias desta orquestra regida por Daniel Guerra. A intervenção de Fiuza veio quase 2h depois de Elói Frizzo provocar o posicionamento do nobre par, com a pérola:
— Fiúza, vossa senhoria deveria ligar para o "reizinho" e pedir se o senhor pode desmentir a informação da fusão.
Com fala mansa e, elegância de sempre, Fiuza pontuou a situação, mas não disse nem que sim, nem que não. Desviou o assunto, assim como seu colega de governo, Nunes. Mas foi além, reforçou o argumento que desce lá do Planalto Central e escorre pelos governos estaduais e municipais.
— Não podemos ser precipitados com as informações extra oficiais. Mas todos os representantes do executivo (no Brasil) estão em uma situação difícil. Os recursos estão escassos, principalmente da saúde e da educação. Todas as demandas são prioridade — sentencia Fiuza.
Na oposição, os vereadores são unânimes e taxativos, se a proposta de fusão de secretarias descer para a Câmara será rejeitada : "aqui não vai passar", repetiam em seus discursos.