
Mesmo sem comorbidades e com sintomas iniciais diferentes dos comuns à covid-19, o soldado da Brigada Militar Jeovan Cezar Trindade, 35 anos, ficou entre a vida e a morte em razão da doença. Foram 40 dias internado e os médicos avisaram a família que se preparasse para o pior. Na tarde desta quinta-feira (20), o soldado Trindade teve alta do Hospital Pompéia, em Caxias do Sul, e foi escoltado por colegas policiais até sua casa em Veranópolis. Uma recepção digna de um herói.
Trindade ainda tem dificuldades para falar e se locomover, consequência das semanas entubado. Por telefone, a esposa Caroline Vincenzi Trindade, 26, conta que o policial militar está bem e festeja a recuperação milagrosa.
— Foram dias "de espinho". Tínhamos fé, mas todo dia era uma notícia ruim. Quando a ligação era (do hospital) de Caxias do Sul, eu já me sentava. Os médicos nos preparam para o pior. Mas ele reagiu, se recuperou... Os médicos disseram que ele renasceu. É como nos sentimos também. Vamos aproveitar esta nova vida dele — comemora a esposa.
Natural de Ijuí, o soldado Trindade entrou para a Brigada Militar em 2010 e logo veio para Veranópolis, onde se casou e cria os filhos Geovanna, oito anos, e Matheus, seis. O soldado trabalha no patrulhamento de rotina pela cidade de 26 mil habitantes e com 300 casos confirmados de coronavírus. A família não consegue determinar como e onde o PM foi contaminado.
— Foi no trabalho, neste policiamento que faz pelas ruas. Porque em casa ninguém mais teve. Fizemos o teste e todos deram negativo. O Jeovan é uma pessoa ativa, corria, trabalhava como policial, nunca bebeu nem fumou. Não era do grupo de risco, mas a doença foi muito rápida — relata Caroline.
O drama de Trindade começou no início de junho. O primeiro sintoma foi uma forte dor de cabeça. Depois, o soldado perdeu a força nas pernas. Por último, a dificuldade de respirar e a internação. Desde o primeiro atendimento, os médicos desconfiaram que fosse covid-19 e o policial militar permaneceu em isolamento. Com a piora dos sintomas, Trindade foi transferido para o Hospital Pompéia em Caxias do Sul.
— A cada dia piorava os sintomas. Dois dias depois de chegar em Caxias ele foi para UTI. Logo depois, foi entubado. Os médicos detectaram pneumonia e lesões no cérebro. Fizeram dois tratamentos diferentes, eram testes, mas a situação estava bem ruim. Diziam que o quadro era gravíssimo. Ele começou a reagir no dia 30, depois saiu da entubação e logo foi para o quarto. A recuperação foi rápida também. Os médicos falaram que ele renasceu, que tem poucos casos como o dele no mundo. No Brasil, apenas seis — conta a esposa.
Com sirenes ligadas e sinais luminosos, colegas da Brigada Militar, bombeiros e Polícia Rodoviária Federal (PRF) fizeram um comboio da vitória no dia alta médica. O policial, que venceu a covid-19 e voltou para casa após 40 dias, servirá de esperança para outras tantas famílias que enfrentam a pandemia.