A primeira morte confirmada por complicações provocadas pelo novo coronavírus registrada em Caxias do Sul é de uma paciente de 96 anos. A idosa integrava o grupo de risco, sofria de doenças crônicas e apresentava um quadro pulmonar grave. Com o doença, a saúde dela ficou ainda mais debilitada, o que levou ao óbito na manhã de terça-feira (12). O município tem agora dois casos, sendo que o primeiro é de um caminhoneiro de 69 anos que morava na cidade, mas morreu na Bahia no dia 2 de maio - ele estava havia 30 dias em viagem.
O velório da idosa ocorreu nesta quarta-feira. Na declaração de óbito consta a expressão "covid curada", o que significa que a vítima não transmitiria mais a doença. Essa informação foi confirmada pela equipe médica do Complexo Hospitalar da Unimed. Por isso, a despedida teve caixão aberto.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS), porém, diz que não foi notificada e não havia autorização para o velório uma vez que tratava-se de uma vítima da covid-19 e a cerimônia fúnebre deveria ter sido com o caixão fechado, seguindo protocolos do Ministério da Saúde. Em nota, a SMS diz que "Os responsáveis pela declaração de óbito poderão ser penalizados caso seja confirmada contaminação de pessoas que estiveram no velório, o qual não foi autorizado pela Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal da Saúde."
Diferentemente do que afirma a SMS, a médica infectologista da Unimed, Lessandra Michelim Rodriguez Nunes Vieira, diz ter contatado a Vigilância Epidemiológica sobre o caso, já que os exames eram negativos para o vírus, e recebeu orientação de que a paciente estava liberada do isolamento. O contato ocorreu por telefone.
— Ela foi tirada do isolamento, mas permaneceu na UTI, porque era uma paciente com a saúde debilitada. Acompanhamos o quadro, e era uma paciente em fase terminal, questionamos sobre como deveria ser o velório e o sepultamento, e como ela estava liberada do isolamento, nos indicaram que seria tratada como não covid — garante a médica.
Lessandra explica que para que a paciente seja considerada recuperada é necessário estar sem sintomas da doença e sem a presença do vírus no pulmão há 14 dias.
— A paciente internou com quadro respiratório grave, foi tratada para esse quadro, o PCR testou positivo para coronavírus, e ela tinha melhorado do quadro respiratório. A paciente foi testada duas vezes, os exames de PCR tiveram resultado negativo, então ela não tinha mais a presença do vírus no organismo.
Ela explica que o quadro pulmonar da paciente era complicado:
— Ela teve outra infecção bacteriana, não relacionada ao vírus, que levou à morte. A paciente tinha lesões pulmonares prévias a Covid-19, e esses pacientes tendem a ter infecção bacteriana, mas ela estava recuperada do vírus — ressalta Lessandra.
A Unimed também confirma que a idosa já não tinha mais o vírus e não havia risco de transmissão da doença.
Pacientes recuperados
A infectologista do Hospital Geral e professora da UCS, Viviane Buffon, não acompanhou o caso da idosa, mas, do ponto de vista médico, frisa que, a princípio, o paciente é considerado recuperado em 14 dias e se PCR atestar negativo, não há risco de contágio:
— Nos casos de pacientes internados por Covid-19, devido a manifestação clínica moderada ou grave, pode haver a cura dessa patologia durante a internação e isso ser confirmado pelo exame PCR. No entanto, o paciente pode apresentar complicações vinculadas a doenças de base prévias do paciente ou mesmo ao tempo prolongado de hospitalização. No preenchimento da declaração de óbito de cada paciente há a causa base que levou o paciente ao hospital que pode ser o Covid-19 e a causa final que pode ser uma sepse, por exemplo — explica Viviane.