
Há uma década, o mês de outubro ganha uma cor e uma missão: alertar sobre a necessidade de diagnóstico precoce e tratamento da neoplasia que mais mata mulheres, o câncer de mama. Dados mostram o quanto é importante falar sobre a doença. Em Caxias, só no ano passado, esse tipo de câncer tirou a vida de 72 mulheres. O número só não é maior que 2014, quando houve 74 mortes.
Desde 2007, o número cresceu 23%. Para tentar inibir a mortalidade e incentivar as mulheres a cuidar mais de sua saúde, a prefeitura também adere à campanha. Irá abrir todas as unidades básicas de saúde (UBS) no sábado, 20 de outubro, para exames voltados exclusivamente ao público feminino.
Além do mês ser dedicado à causa, o que interessa e move a equipe do Núcleo e Atenção à Saúde da Mulher é reduzir a mortalidade ao diagnosticar cedo e encurtar o tempo entre um atendimento e outro, segundo o diretor técnico, o mastologista Fernando Vivian.
— A fila de espera com especialista (mastologista) inexiste, o agendamento é feito de uma semana para outra. Nós cumprimos e estamos dentro da lei do tratamento do câncer, que exige o primeiro atendimento em até 60 dias após o diagnóstico. Entre marcar radioterapia e começá-la, não chega a 15 dias. A mulher não morre do câncer na mama, ela morre do câncer de mama. Porque ele inicia ali e pode se espalhar. Se eu conseguir manter ele aprisionado, no mais curto espaço de tempo, reduz a mortalidade. E este é o nosso esforço diário — explica.
Na cidade, a doença impacta a vida de, pelo menos, 1.114 mulheres. Este é o número de pacientes que passa por acompanhamento do Programa Municipal de Vigilância e Detecção Precoce do Câncer de Mama (Vigimama), da Secretaria Municipal de Saúde. Nem todas têm o diagnóstico confirmado, mas precisam conviver com a possibilidade dele: são mulheres cujos exames acusaram forte suspeita do câncer mamário.
Para fazer o diagnóstico final com um dos oito mastologistas que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é necessário consultar com ginecologista nas UBSs, a porta de entrada para mais este serviço. O tempo máximo de espera para o atendimento ginecológico, segundo a Atenção Básica, é de 30 dias, em casos em que não há suspeita de anormalidade. Das 47 UBSs de Caxias, cinco não têm ginecologista. Nestes casos, as pacientes são encaminhadas para o postinho mais próximo.
— É importante que a mulher relate na hora de pedir agendamento se sentiu a presença de algum nódulo, por exemplo. Há casos em que conseguimos atendê-la no mesmo dia — afirma Maria Elenir Anselmo, diretora da Atenção Básica.
Mamografia aos 40 anos
Presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer, Roseli Heinen confirma que pacientes relatam agilidade no diagnóstico, mas mostra que há lacunas que precisam melhorar. Exemplo: o tempo médio de espera para uma mamografia, que é de 40 dias, pode ser menor. Consultas com endocrinologistas, cardiologistas e outras especialidades exigidas, muitas vezes, para o tratamento ou uma cirurgia, costumam demorar.
— Depois que o paciente chega ao Pompéia e ao Hospital Geral, o atendimento é rápido, sem fila. O que pode demorar é este caminho até o diagnóstico. Quando há necessidade de uma consulta urgente, exames ou até medicações que são mais difíceis pelo SUS, nós entramos em ação e ajudamos o paciente — lembra Roseli.
Segundo o diretor técnico Fernando Vivian, esta espera ocorre em casos que não há suspeita de câncer.
— Para rastreio, tempo de 40 dias não é alto. O rastreio é feito com população assintomática, sem queixa, quando o exame é feito para ver se há alguma doença. É uma detecção precoce. Quando há uma paciente que se autodiagnosticou, é alta prioridade. Ela receberá a primeira vaga que tem — garante Vivian.
Ainda que o Ministério da Saúde recomende que a mamografia de rotina seja feita entre 50 e 69 anos, em Caxias, o exame é oferecido à paciente após os 40 anos. A razão da antecipação é clara: 20% das mulheres que morreram nos últimos 12 anos tinham até 49 anos.

>> ESTATÍSTICAS
# Passam por acompanhamento no programa Vigimama, em Caxias do Sul, 1.114 casos suspeitos de câncer de mama. Ou seja: este é o número de mulheres que faz o controle da doença.
# O Ministério da Saúde recomenda que a mamografia de rotina seja feita entre os 50 e 69 anos. No entanto, como os índices do RS são altos, a prefeitura de Caxias banca mamografias para usuárias das unidades básicas de saúde (UBS) a partir dos 40 anos.
# Só neste ano, 9.448 exames de mamografia foram feitos via Sistema Único de Saúde (SUS). Outras 2.129 mulheres tiveram de se submeter a ecografias mamárias.
# Quase 20% das mulheres que morreram de câncer de mama nos últimos 12 anos em Caxias tinham até 49 anos.
# Entre as mulheres com câncer de mama que são acompanhadas pelo programa Vigimama, 34,64% tem menos de 50 anos.
# O diagnóstico, tratamento e cura do câncer de mama também exigem investimentos públicos. Em 2017, o tratamento com radioterapia e quimioterapia despendeu R$ 3.602.218,70 dos cofres da prefeitura.
"O essencial é a mamografia", diz Rita de Cássia Costamilan, oncologista
A ciência se debruça sobre o câncer de mama para tentar entender, cada vez mais, fatores decisivos para o diagnóstico. Enquanto não há tratamentos preventivos, sabe-se que a necessidade de um rastreio preciso e rápido é que contribui para que a doença não evolua. A oncologista Rita de Cassia Costamilan, professora do curso de Medicina da UCS e membro da Sociedade Americana e Europeia de Oncologia, indica quais são as características mais comuns entre pacientes, os exames indispensáveis e a importância do estilo de vida. Confira
Pioneiro: Quais são os fatores comuns a pacientes com câncer de mama
Rita de Cassia Costamilan: Ainda que não seja possível identificar a causa da maioria dos tumores, há indicativos que apontam quais mulheres precisam aumentar o rastreio. São pacientes que tiveram a primeira menstrução precoce, antes dos 11 anos, ou menopausa tardia, com a última menstruação após os 55 anos. Mulheres que nunca tiveram filhos ou com o primeiro filho após os 35 anos também precisam ficar de olho, porque ficaram expostas por muito tempo a estes hormônios. Quando engravida, muda o tipo de hormônio, e se tornam menos tóxicos. Além disso, mulheres com histórico familiar de câncer e que fumam ou bebem também estão no grupo de risco.
Há algum fator que contribua para que, após identificado, o câncer tenha menos chances de voltar?
A qualidade de vida: fazer atividade física, cuidar da alimentação, não fumar e não beber diminui a chance de o tumor de mama voltar. Depois de diagnosticado, é fundamental a paciente manter o peso corporal ideal. Manter uma vida saudável é fundamental para quem teve um tumor.
Qual o exame mais assertivo para o diagnóstico do câncer?
O essencial é a mamografia, que é melhor visualizada na mama da paciente acima dos 40 anos. Abaixo dos 40 anos, se há suspeita em uma mama muito densa, é necessário também a ecografia. Um complementará o outro, porque o exame de eleição sempre é a mamografia. Em pacientes mais jovens, o ideal é a ecografia. De qualquer forma, os dois exames são ofertados pelo SUS.