Os coletores da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca) estão enfrentando verdadeiras maratonas para recolher lixo nas ruas da cidade. Desde quinta-feira, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) proibiu o transporte dos trabalhadores no estribo do caminhão, que fica na parte traseira junto ao compactador de resíduos. Por esse motivo, eles percorrem o roteiro a pé. Em alguns casos, o trajeto pode chegar a 30 quilômetros.
A justificativa do MTE é de que os coletores estão expostos a acidentes quando levados na parte externa. O empresa e o Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza e Conservação (Sindilimp) discordam e afirmam que o estribo é uma ferramenta de trabalho e seria desumano fazer com que os coletores façam longas extensões a pé.
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O gerente regional do MTE, Vanius Corte, diz que a interdição do estribo levou em conta o elevado índice de acidentes envolvendo trabalhadores da Codeca. Mesmo sem apresentar números, Vanius afirma que a empresa estaria entre as que mais comunicam ocorrências em Caxias.
– Tivemos mortes em outras cidades da Serra. Andar na parte externa de uma caminhonete é infração de trânsito. Por que seria diferente em relação aos coletores? – compara.
Para evitar longas caminhadas, uma equipe que trabalhava no Desvio Rizzo na tarde desta sexta-feira optou pelo revezamento. Enquanto dois amontoavam o lixo mais a frente, um terceiro seguia na cabine do caminhão mais atrás, de onde descia para o recolher o material separado. Os trabalhadores já demonstravam cansaço com a correria.
– Para nós é pior os vidros que estão nos sacos. Na traseira do caminhão não tem problema – aponta o coletor Luis Carlos Welter, 37
Conforme o gerente do departamento de limpeza urbana da Codeca, Mauro Cavagnollo, os trabalhadores acham o formato de entrar e desembarcar nas cabines mais cansativo e complicado.
Cavagnollo diz que a empresa ingressará com um mandado de segurança para reverter a determinação. Em média, cerca de 200 coletores usam o estribo diariamente na cidade nos três turnos de trabalho. Eles são responsáveis pelo recolhimento de 55% do lixo orgânico de Caxias. O restante é removido pelos caminhões automatizados no sistema de contêineres.
– Os acidentes envolvendo coletores estão mais relacionados a material acondicionado de forma errada nas lixeiras, como vidros quebrados e outros objetos cortantes. O que mais ocorre em relação aos estribos são escorregões, torções. Não tivemos nada grave nos últimos tempos _ argumenta o gerente.
O presidente do Sindilimp, Henrique Silva, entende que é necessário buscar uma alternativa aos trabalhadores, pois o formato de coleta precisa garantir a segurança.
– Mas não podemos abrir mão dessa ferramenta. Faltou diálogo antes de tomar essa decisão – critica.
Conforme Vanius Corte, a inexistência de cinto de segurança para todos os ocupantes da cabine também é outra irregularidade. Cada caminhão saía da empresa com o motorista e mais três coletores na cabine. Com a notificação do MTE, a Codeca passou a transportar a levar apenas dois coletores no caminhão. O terceiro é deslocado em outro veículo até o bairro da coleta.
– Foram emitidos vários autos de infração que devem ser regularizados em 60 dias, mas o uso do estribo não tem volta – complementa Corte.