Quando o assunto é cicloturismo, a Serra está atrasada em relação a outros destinos tradicionais do país, e até mesmo do Estado, como as Missões. Essa é uma opinião recorrente entre aqueles que têm os passeios de bicicleta como hobby ou profissão, e também entre especialistas do setor turístico. Contudo, a exploração desse segmento parece querer despertar, com o projeto de criação da Rota Cicloturística Caminhos de Caravaggio _ iniciativa que visa a união das regiões da Uva e do Vinho e das Hortênsias em torno do turismo, principalmente sobre duas rodas. A ideia, gestada pela prefeitura de Farroupilha, é explorar aquilo que a região tem de mais belo: os templos religiosos e os caminhos que levam a eles.
A rota deve durar de quatro a cinco dias e percorrer 150 quilômetros entre os santuários de Caravaggio de Farroupilha e de Canela, passando por Caxias do Sul, Vale Real, Nova Petrópolis e Gramado. Serão prestigiadas, principalmente, as estradas do interior, onde não apenas igrejas, mas também taipas, porões de pedra, pontes de ferro e vastas plantações formam cenários tão belos quanto ricos de história e cultura. Uma das especialistas envolvidas na elaboração do roteiro, a turismóloga Marisa Poloni destaca que a fase ainda é de mapeamento e busca por parcerias para viabilizar o projeto. Se tudo der certo, a expectativa é inaugurar o roteiro durante a Festa de Caravaggio, no ano que vem.
– Os municípios irão apontar seus pontos a serem incluídos no trajeto e indicar parcerias com entidades privadas, como restaurantes e hotéis. Por ser um roteiro para quatro ou cinco dias, é preciso oferecer locais de apoio e hospedagem. A intenção é trabalhar o conceito de Caravaggio, mas também a cooperação entre regiões como a da Uva e do Vinho e das Hortênsias em torno do turismo. Outros estados já exploram muito bem isso e queremos fazer algo parecido – explica a turismóloga.
Entusiasta das pedaladas por estradas de chão, o caxiense Luciano Pacheco, 40, coleciona fotos de construções antigas que encontra pelo caminho. Comparando, pode perceber quanta informação se perde cada vez que uma casa histórica dá lugar a um prédio ou a um trecho de asfalto. Por isso, acredita que a consolidação de um roteiro que privilegie as colônias pode ser também uma forma de incentivar a preservação da cultura dos imigrantes.
– Caxias do Sul está fora dessa questão de cicloturismo. Existem roteiros em Bento Gonçalves e em São Francisco de Paula, em Gramado e Canela há agências que oferecem passeios de bicicleta por pontos turísticos... Caxias não oferece nada. É uma chance de entrar em conformidade com os vizinhos, com nossas estradas secundárias sendo um grande atrativo. Caxias sempre teve a vaca, mas não sabe tirar o leite – avalia Pacheco, que se prepara para iniciar um trabalho como ciclocondutor de um hotel em Bento Gonçalves.
Na tarde de quinta-feira, em Gramado, uma reunião no auditório da prefeitura serviu para apresentar o projeto principalmente às secretarias de Turismo dos municípios envolvidos, além de líderes da classe empresarial e uma empresa especializada em parcerias público-privadas, a Radar PPP. O encontro foi convocado pelo grupo de trabalho criado pela prefeitura de Farroupilha para dar andamento à ideia. Além da apresentação preliminar da proposta e do trajeto sugerido, foram exibidas imagens de algumas das paisagens que os ciclistas poderão contemplar. A engenheira ambiental da prefeitura de Farroupilha Rafael Pessin considera que o encontro foi bastante produtivo.
_ A proposta fora muito bem recebida por todos os presentes. Cada cidade irá verificar a existência de rotas mais atrativas em sua área, e também a pré-existência de pontos de apoio. Também surgiu a possibilidade de agregar a rota que sugerimos ao roteiro peregrino em homenagem ao padre João Schiavo, desenvolvido em Caxias do Sul _ comenta Rafaela.
Em uma nova reunião, agendada para o dia 19 de setembro, deve ser criado o plano de ação que irá permitir compor e efetivar o projeto.
Pedaladas de agradecimento
Ciclista por estilo de vida, o advogado caxiense Fulvio Pedro Boff, 37, é devoto fervoroso de Nossa Senhora de Caravaggio. Foi no Santuário, que costuma visitar a cada 15 dias, que ele batizou sua filha. Considera que as pedaladas até o templo misturam crença com fortalecimento mental e espiritual, como se servissem de amuleto para as competições de ciclismo que por 20 anos participou, até 2014. Hoje, pedala para renovar as energias e dedicar um tempo a agradecer à santa, mais do que pedir.
_ O ciclismo é uma válvula de escape para o estresse. Há quem tome remédio, eu ando de bicicleta _ diz.
Boff acredita que a formação de um roteiro irá oferecer um ganho estrutural para o caminho rumo ao Santuário de Caravaggio, além de facilitar a divulgação de pontos não tão conhecidos por ciclistas que não são da região. Como exemplos, destaca belas edificações religiosas nas localidades de Mato Perso, São Vitor, Loreto e Santa Lúcia do Piaí, algumas das quais costuma visitar:
_ Cada uma dessas comunidades se estruturou em torno de uma igreja. São lugares bonitos e com muita história. Aliando a fé com um roteiro e boa estrutura, os praticantes dessa modalidade vêm.