— Quem tem fé em Nossa Senhora de Caravaggio, pode crer, ela soma muito.
O relato de José Passa, 79 anos, é uma combinação de experiências que envolvem tradição, entrega e acima de tudo, fé. Nascido no mesmo ano em que o Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio começou a ser construído, em 1944, Passa cresceu em uma família que a tem a santa como símbolo e expressão de sua crença.
Desde criança ele acompanha as celebrações de devoção pela padroeira de Farroupilha. Passa estima que são mais de 70 romarias atuando como voluntário na venda de lanches. Nas primeiras festas, ainda menino, ele lembra de um antigo costume dos romeiros.
— Quando terminava a romaria, o costume do pessoal era almoçar churrasco e tomar vinho. Então cada família comprava três, quatro garrafas, levavam embaixo das árvores e ficavam bebendo. Eu deveria ter uns cinco anos e já estava lá, ajudando a encher as garrafas —conta.
Anos depois, quando as tradicionais missas da noite faziam parte da programação, Passa relembra das multidões enfrentando o frio para comparecer às celebrações. Com o término delas, vieram os ônibus, trazendo devotos de cidades longínquas para se unir em oração.
Em todas as fases, Passa se fez presente dedicando o tempo livre de maneira voluntária. Um trabalho de suporte, que conforme ele, precisa ser feito para que haja romaria. Durante a pandemia, a fase mais difícil, ele confessa a falta que sentiu em estar em Caravaggio, principalmente no dia 26 de maio.
Por isso, na última quinta-feira (24), quando a reportagem chegou ao santuário, Passa era puro entusiasmo. Nem a chuva ou o vento gelado o intimidaram na tarefa de montar a tenda que venderá os lanches em frente à igreja.
— Para mim, o significado de estar aqui, pode trabalhar, é mais do que uma obrigação: é uma questão de fé. Se os nonos trouxeram Nossa Senhora da Itália, a gente precisa consolidar essa tradição. Tenho lá naquela copa que estamos montando, um neto de oito anos. Espero que ele seja um sucessor dessa história.
Ao falar de fé, Passa demonstra no olhar que compreende a essência da palavra. Isso porque ele foi agraciado por Nossa Senhora de Caravaggio com uma graça. O episódio aconteceu há cerca de 30 anos, mas é narrado por ele como se tivesse sido ontem.
Em uma viagem à trabalho para Videira, oeste de Santa Catarina, um colaborador de Passa sofreu um grave acidente de trânsito. O caminhão que o homem conduzia se chocou contra uma carreta. A equipe que acompanhava o motorista não conseguiu abrir a porta do veículo para resgatá-lo. Angustiado com a situação, Passa pediu a intercessão da santa.
— Todo mundo já tinha desistido de tentar abrir a porta do caminhão. Eu fiquei lá, sozinho, e gritei pela ajuda de Nossa Senhora. Quando peguei na porta, ela se abriu sem fazer força. Aí tiramos o homem de lá e levamos para o hospital. Consegui salvar ele. Naquela hora, eu senti que recebi a graça — recorda, emocionado.
Desde o episódio, a fé que ele nutria pela santa se fortaleceu, tornando-se suporte em momentos de dificuldade. Nas palavras de Passa, a Nossa Senhora é sinônimo de segurança, seja qual for a circunstância.
Nesse final de semana, Passa se une aos milhares de devotos que passarão pelo santuário. Ele, em permanente agradecimento pela bênção e de braços abertos para recepcionar aqueles que compartilham da fé na padroeira de Farroupilha.