Helen tinha 9 anos quando morreu atropelada no asfalto da ERS-122, trecho também conhecido como Rota do Sol, no bairro Cidade Industrial, em Caxias do Sul.
Não faz muito tempo, três anos apenas.
Quem mora perto daquele caminho onde pedestre não tem vez, lembra do corpo miúdo estendido ao lado de casebres que quase invadem a pista. A curta trajetória de Helen, sua vocação para o canto e outros traços de vida foram borrados pelo tempo e pela velocidade que conduz milhares de motoristas na rodovia.
É a história dessa garotinha anônima e de outras 17 pessoas mortas em acidentes no trajeto que justificam o protesto desta sexta-feira, às 8h, no Km 72 da ERS-122, trevo de acesso ao Cidade Industrial, frente da Iveco.
É o sexto bloqueio de trânsito desde março naquele ponto. Os veículos serão liberados de forma intercalada para evitar transtornos. Desta vez, o recado é mais claro: se a resposta do Estado não vier a curto prazo, as próximas mobilizações vão interromper o trânsito sem possibilidade de tráfego nos dois sentidos.
O trecho mortal tem dois quilômetros, a partir do Km 71, no acesso à Estrada dos Romeiros, e ao início do Km 73, no acesso ao bairro Cidade Nova. É perigoso para quem dirige, para quem está a pé ou para quem tenta acessar comunidades próximas.
Testemunhas das tragédias contam pelo menos 30 mortes em duas décadas. Com ajuda do motorista aposentado Leonir Soares dos Santos, morador do bairro desde os anos 1990, a reportagem conseguiu recuperar a história parcial de 18 pessoas desde o distante 1997.
Quase metade morava no Cidade Industrial ou nas moradias às margens da estrada. Os demais estavam de passagem por uma estrada que conheciam bem. A comunidade não entra no mérito da responsabilidade de cada pedestre ou condutor nos acidentes. Eles apenas exigem equipamentos para frear a velocidade que supera os 60 km/h permitidos no trecho.
- Paramos para pensar em quanta gente que já se foi ali. Tu anda pelo bairro e lembra daquela pessoa que morava na esquina, do sujeito que tu encontrava no mercado. Estão todos mortos - pondera Leonir.
Pesquisa em jornais antigos mostra que houve mobilização semelhante no início da década passada, mas sem efeito. Em maio deste ano, mil pessoas, entre moradores e motoristas, assinaram abaixo-assinado pedindo a intervenção do Ministério Público, segundo o presidente Associação de Moradores do Cidade Industrial, Hugo Trindade. O promotor Ádrio Gelatti agendará reunião com o Estado:
- Antes é preciso um estudo para ver o que é melhor. Vou procurar o novo secretário de Transportes do Estado e mostrar a situação. Esse é o caminho no momento.
Para Hugo, Leonir e outras dezenas, porém não precisaria muita coisa: um quebra-molas ou tachões na pista já domariam a imprudência.
OUTROS TRECHOS PERIGOSOS DA ROTA
Não são apenas os moradores do Cidade Industrial e Cidade Nova que sofrem. Caxias do Sul tem outros 14 pontos críticos na Rota do Sol, segundo o Daer:
- Acesso a Monte Bérico.
- Acesso aos Pavilhões da Festa da Uva.
- Acesso ao bairro Santa Fé/ Codeca/ Posto São Luiz.
- Acesso ao bairro Santa Fé / Av. Mário Lopes.
- Acesso Estrada Atílio Andreazza.
- Acesso ao Travessão Leopoldina.
- Acesso ao São Ciro II.
- Interseção com a Rua Sétimo Menegotto.
- Interseção com a Rua Zeferino Freitas/acesso Empresa Mundial.
- Acesso a Santo Homo Bom.
- Acesso a São Braz.
- Acesso ao distrito de Fazenda Souza.
- Dois acessos ao distrito de Vila Seca.
Rodovia das lágrimas
Protesto bloqueará trecho da ERS-122 que teve 18 mortes em acidentes de trânsito em Caxias
Moradores se mobilizam nesta sexta-feira no Km 72 para evitar novas tragédias
Adriano Duarte
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