Minutos antes de ser liberado do Pronto-Socorro do Hospital Pompéia na manhã desta quinta-feira, Paulo Francisco Arruda Schmidt, 47 anos, conversou com o Pioneiro. Motorista do caminhão que se envolveu em acidente que vitimou dois homens próximo do trevo de acesso a Monte Bérico, Schmidt amarga as marcas da colisão. Tem ferimentos por todo o corpo, mas a dor mais profunda, garante, foi ter se envolvido na morte de outras pessoas.
Ainda com dificuldades para falar, Schmidt não quis ser fotografado e alega não se recordar de detalhes do ocorrido. Conta que sentiu uma pancada em seu caminhão e que em seguida ficou desacordado, vindo a recobrar a consciência somente no hospital. Ele não lembra de ter rodopiado na pista e frisa que não excedeu a velocidade permitida no trecho.
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Confira a seguir a entrevista:
Pioneiro: O senhor se lembra como foi que ocorreu o acidente?
Schmidt: Eu lembro pouca coisa, que eu vim vindo, aí um automóvel vinha subindo e foi tirar para ultrapassar e se perdeu e veio direto em minha direção e eu segurei. Aí eu só senti que alguém bateu atrás de mim e depois não vi mais nada. Eu só senti um empurrão no caminhão e aí não vi mais nada.
Pioneiro: Não se lembra de ter rodopiado na pista?
Schmidt: Não me recordo, porque a hora que eu segurei o caminhão, deu a batida e ali já não vi mais nada. Eu estava a uns 60 por hora, 60 e poucos, não tinha velocidade para rodopiar.
Pioneiro: O senhor ia para onde?
Schmidt: Eu estava indo para a mecânica levar o caminhão para arrumar. (De acordo com Jaqueline Carniel, gerente de compras corporativas e responsável pelos seguros da TransCaxias, o caminhão se dirigia à mecânica Top Marcas para arrumar o climatizador da cabine. Segundo ela, o aparelho estava estragado permitindo que chovesse em cima do motorista)
Pioneiro: Sempre trabalhou como caminhoneiro?
Schmidt: Pode puxar o meu currículo, a minha carreira, eu nunca tive acidentes graves. Já viajei por todo esse Brasil, nunca levei uma multa de trânsito, sempre tentei cumprir com a norma da lei. Por uma desgraça do destino aconteceu isso aí que óbvio que eu não queria.
Pioneiro: É a primeira vez que acontece isso? Já se envolveu em outros acidentes?
Schmidt: A primeira vez forte foi esse aí. Outros acidentes fortes assim nunca. Pode puxar meu currículo, pela firma, tenho cinco anos de firma e não tenho uma multa de trânsito.
Pioneiro: Qual é o sentimento agora?
Schmidt: Ah, é triste, porque eu não tiro a vida nem de um cachorro. Vou querer tirar a vida de um ser humano? Não é justo. Eu fiquei sabendo depois, na hora você não vê nada. Eu só rezo por essas pessoas porque podia ter sido eu também.
Pioneiro: Você se sente culpado?
Schmidt: Eu culpado não porque é como te falei, jamais queria tirar a vida de ninguém. O meu nome está aí para quem quiser puxar, nunca me envolvi em acidente sério.
Pioneiro: Teve alguma fratura, alguma sequela?
Schmidt: Só sei que eu fui parar fora do caminhão com a batida. Se eu estivesse em alta velocidade, garanto que poderia ter até batido no outro veículo que estava na minha frente. Não bati no veículo da frente, mas veio o outro e me engatou mesmo. O caminhão se desgovernou porque bateram atrás de mim, depois não vi mais nada. Estou todo dolorido, só sinto pelas pessoas. A minha dor não é nada perto das pessoas que perderam a vida.
Pioneiro: Pretende voltar ao trabalho depois de recuperado?
Schmidt: A vida vai ter que continuar. Não posso morrer para a vida. Só sinto pelas pessoas que perderam a vida. Eu não quis tirar a vida de ninguém.