Aos 47 anos, Clemer está vivendo a sua primeira experiência como treinador longe do Beira-Rio. Técnico desde 2011, quando assumiu na base do Inter, ele chegou a ser interino no time de cima, no Brasileirão de 2013, após a demissão de Dunga. De volta à base colorada, deixou o CT de Alvorada em meados de 2015, após se desentender com o preparador físico Flávio Soares, o Galo. Depois de nove títulos na base do Inter, assumiu o Glória.
O time de Vacaria recém havia ascendido à Série A do Gauchão quando Clemer foi contratado, em outubro. Com o preparador físico Bruno Rangel, começou a montar a equipe ainda em 2015 e, logo no primeiro jogo, bateu o Veranópolis por 3 a 1. Clemer conversou com Zero Hora depois de uma viagem de oito horas de ônibus, de Vacaria a Rio Grande, onde a equipe enfrentará o São Paulo, nesta quarta-feira.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como foi a estreia com o Glória?
- Muito boa. Conseguimos segurar bem a pressão do Veranópolis. Montamos um time bastante competitivo e rápido. Coloquei na cabeça dos jogadores que precisaremos buscar vitórias nos jogos fora de casa. Em Vacaria, temos obrigação de vencer.
Mas e quando você encarar Grêmio e Inter?
- Bem, contra o Grêmio nós jogaremos na Arena. Será um jogo difícil, pois teremos que marcar muito forte, por se tratar de um time com jogadores diferenciados. Quando estivermos com a bola, teremos que dar o susto aquele pata tentar o gol. Se fizermos, aí será um abraço, pois defenderemos com 50 lá atrás. Já o Inter jogará conosco em Vacaria. É diferente, pois poderemos atacar mais, uma vez que teremos a obrigação de tomar a iniciativa.
Como você montou o Glória?
- Gosto de jogadores de velocidade e de força. Busquei esse tipo de jogador, boa parte no Nordeste. Ainda não joguei com o meu time ideal, pois tem gente que não está em condições de jogo. Estamos esperando dois jogadores do Inter, o Leandro (atacante, que estava cedido ao Arouca, de Portugal) e o Raphinha (lateral-esquerdo, que estava emprestado à Luverdense). Quero mais um goleiro, experiente, porque tenho só dois.
O Glória quer se manter na primeira divisão ou sonha mais alto?
- Quero é classificar o time entre os oito melhores. É duro, mas é isso o que queremos. O problema é que largamos com três jogos fora de casa (a vitória sobre o Veranópolis foi em Farroupilha, uma vez que o Glória havia sido punido por competições anteriores; mais São Paulo, em Rio Grande, e Novo Hamburgo, no Estádio do Vale), é algo bem complicado. Passamos pelo primeiro obstáculo.
Como tem sido a sua primeira experiência fora do Inter?
- Muito boa. E esse era o pensamento: ganhar corrida em outro lugar, trabalhar em um clube diferente. Quando se fica muito tempo em um só time, você fica muito vinculado a esse clube e, no meu caso, às categorias de base. Depois fica aquela conversa de que "nunca pegou um time profissional". Tem sido um trabalho com todas as condições. A cidade foi muito receptiva. Não tem um dia que eu passe em Vacaria sem dar autógrafo para colorados e para gremistas. Minha mulher (Elisabete) veio comigo. E as minhas duas filhas também virão, sempre que possível, pois elas têm a universidade, em Porto Alegre.
Você levou um choque com a diferença de estrutura oferecida pelo Inter e a do Glória?
- Não vou negar, quando cheguei, me espantei. Estava tudo muito atrasado. Para mudar a mentalidade é difícil, fizemos um bom planejamento. Mostrei porque o Glória ficou oito anos na segunda divisão. Tem que pensar grande. Uma coisa é ser pobre e maltrapilho, outra é ser pobre e arrumadinho. Seremos assim: arrumadinhos.
O Glória jogará os torneios do segundo semestre?
- Vai depender da campanha no Gauchão. Se ficar entre os oito, já será outra situação. Assinei contrato apenas pelo Estadual. O Gauchão é uma vitrine para técnicos também. O estádio (Altos da Glória) está muito bonito. Tenho esperanças de uma grande campanha.
Você pensa voltar ao Inter?
- Só Deus sabe. Não posso dizer que vou voltar. A vontade é grande, mas quero voltar em outra época. Não agora. Deixa o Inter viver a vida dele. Sempre torcerei para que o clube possa conquistar os seus objetivos.
Como você motiva os seus jogadores?
- Digo a eles que quem fica marcado na história é aquele que vence. Os demais, apenas passam. Estou realmente feliz no momento. Por onde vou, as pessoas vêm tirar fotos comigo. O mais legal de tudo é o respeito.
Entrevista
Clemer fala sobre início no Glória e admite vontade de retornar ao Inter: "Quero voltar, mas em outra época"
Técnico de 47 anos aposta em uma boa campanha do time de Vacaria no Estadual
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