Felipe Calgaro não era nascido quando a primeira Feira do Agricultor de Caxias do Sul foi realizada, em 23 de novembro de 1979, há 40 anos. Mas a família já estava lá, presente. Os avós Pedro e Angelina Calgaro (falecidos) integraram o grupo dos 10 produtores que inaugurou o formato na cidade. Hoje, aos 34 anos, Felipe mantém, com o irmão e a mãe a banca que também já foi do pai dele, Carlos, já falecido.
— A gente gosta do que faz. Planta, produz e tem de vender — diz o agricultor, que comercializa as frutas e hortaliças produzidas na 8ª Légua.
Com idade inferior à da feira, Felipe não tem como lembrar dos primeiros anos. Mas os colegas veteranos recordam muito bem. Lair Ambrósio Schneider, 59 anos, ingressou em 1983, quando ainda não existiam bancas. Os produtos eram vendidos em caixas e cestos no chão. Até carne de porco Lair oferecia aos clientes. Também precisava acordar muito mais cedo do que acorda hoje para garantir um bom lugar na rua — os melhores espaços eram de quem chegasse primeiro.
Apesar das condições mais precárias, o retorno financeiro era melhor, diz Lair:
— Hoje tem muita concorrência. Naquela época, só tinha Super Cesa e Calcagnotto.
Para vencer a competição com as grandes redes e até mesmo com os mercados menores, foi preciso se reinventar. O uso da tecnologia foi uma das medidas adotadas. Filho de Lair, Gustavo introduziu a máquina de cartão de crédito e débito na banca e passou a oferecer entrega de mercadorias a domicílio, a partir de pedidos feitos por WhatsApp. As mudanças auxiliam nas vendas, mas tem um ponto que continua sendo o mais importante.
— Tem de caprichar na qualidade — enfatiza Gustavo, que irá herdar o negócio do pai assim que ele se aposentar.
Vizinho de banca, o feirante Ari Luis Bernardi, 59, concorda. É "mercadoria nova que segura a feira em pé", diz. E não é apenas ele que pensa assim. Os clientes, principais interessados, procuram a feira de rua porque nela encontram bons produtos, variedade e preço justo.
— Na feira, a gente acha produto que vem direto do produtor. Já tentei comparar, comprando no mercado, e não compensou. Não é a mesma coisa — conta a aposentada Iradi Calgaro, 71.
CLIMA DE AMIZADE
— Na feira ninguém fica doente. Feira é uma terapia — grita de sua banca Claudio Schneider, irmão de Lair. Há 30 anos na lida diária, faça sol, faça chuva, já atendeu a todo tipo de cliente. E com muitos criou laços de amizade, assim como o colega Ernesto Matte, 69 anos. A simpatia, aliás, é fundamental para a sobrevivência da banca.
— Quem capricha, é mais atencioso, vende mais. As pessoas vêm na feira porque é mais legal — entende.
Osvaldina Dutra, 89, frequentadora da feira do Serrano há 30 anos, também gosta mais. Prefere o contato direto com os agricultores do que ir ao mercado, sem dúvida.
— Na feira, tu escolhe melhor. E fica batendo papo – diz Valda, como é conhecida, e que até flores ganha dos feirantes.
CERCA DE R$ 30 MILHÕES
A feira que começou com 10 agricultores na Rua Hércules Galló, próximo ao Estádio Alfredo Jaconi, hoje está espalhada em 34 pontos e é realizada de terça a sábado. São 108 produtores – que comercializam produção própria – e 29 comerciantes – que vendem produtos que não são produzidos em Caxias.
A maior edição é a da Maesa, com 70 feirantes. As de São Pelegrino e do Cruzeiro têm cerca de 60 bancas. As menores têm entre 10 e 15. Cada feirante tem autonomia para decidir qual feira irá fazer.
Não há dados sobre faturamento, mas a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estima que, em 2018, a feira faturou entre R$ 28 e R$ 30 milhões. Um levantamento começou a ser feito entre os feirantes. A secretaria terá números atualizados no ano que vem.
FESTA PARA CELEBRAR
Para comemorar os 40 anos da Feira do Agricultor, uma festa ocorre neste sábado, das 6h às 12h, na feira da Maesa, na Rua Plácido de Castro. Diversas atividades estão previstas, como brincadeiras para crianças, sorteio de cestas coloniais, distribuição de bolo e salada de fruta feita com doações dos feirantes.
— A feira é um evento e tem tradição. Sou um imigrante e não conhecia a feira. Foi uma surpresa boa porque é uma forma de valorizar o produtor que nem sempre consegue escoar a produção. A feira valoriza a propriedade, porque o agricultor vende direto para o consumidor — avalia Damito Sartori, gerente de comercialização da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa) e natural de Parobé.
A festa é organizada pela Smapa e Associação de Feirantes de Caxias do Sul.
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