O paranaense Ademir Chiodelli, 58 anos, está na Marcopolo desde 1995. De lá até agora segue empregado em uma das mais importantes empresas brasileiras. Naqueles idos da década de 1990, Ademir encontrou não apenas um emprego, mas a perspectiva de encaminhar o futuro do seu filho, Alecsandro, na época com 16. Alecsandro participou de uma prova seletiva e ingressou na Escola de Formação Profissional Marcopolo.
Prestes a completar 30 anos, a escola já formou mais de 2 mil alunos, a maioria com carreira na empresa, como é o caso de Alecsandro. E no dia 5 de dezembro, seu filho Alex, de 18, repetindo sua trilha, será graduado. A fim de celebrar perspectivas promissoras como essas, ocorre entre hoje e amanhã, pela primeira vez em Caxias, a Feira de Aprendizagem Profissional, no Centro de Eventos da Festa da Uva. A entrada é gratuita.
A história de Alecsandro não atesta apenas um sucesso pessoal, mas o de um programa de ensino, regulamentado por lei, que visa dar acesso ao primeiro emprego. No Brasil, estima-se que deveriam estar debaixo da tutela de programas de aprendizagem cerca de 1 milhão de brasileiros, entre 14 a 24 anos. Em Caxias, deveriam ser 4.313 jovens.
Esses índices referem-se ao mínimo de 5% das vagas ofertadas por empresas de grande e médio porte, como prevê a Lei 10.097/2000, que ainda coloca um teto de 15% para esta finalidade. No entanto, em Caxias ainda faltam ser preenchidas 1.334 vagas. Esse vácuo, argumenta Denise Brambilla Gonzáles, auditora fiscal da Superintendência Regional do Trabalho, se deve à falta de sensibilidade e consciência dos empresários para de fomentar a Aprendizagem Profissional.
– Caxias tem em seu DNA a aprendizagem. Porque em 1944 foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), tendo sido a terceira cidade do Brasil a estabelecer esse tipo de escola. A aprendizagem é uma boa oportunidade para todos, não apenas para o vulnerável, porque é um ótimo caminho para a inserção do jovem no ambiente de trabalho – recorda Denise, que é também a Coordenadora da Aprendizagem no Rio Grande do Sul e trabalha como auditora há 41 anos.
Educação é aliada do crescimento
Alecsandro Chiodelli, 38 anos, é supervisor de produção da Marcopolo há nove e trabalha na empresa há 22.
– Passei da fase de aluno que buscava ser efetivado, para um líder que hoje trabalha com alunos. Eles têm uma adaptação mais fácil do que as pessoas que não passaram pela escola, porque eles já tem o DNA da empresa – argumenta.
A alegria de Alecsandro em ver o filho Alex galgar as mesmas etapas que ele é compartilhada por Denise.
– A gente acaba se apaixonando por esse trabalho, porque muda não apenas a vida profissional, mas a pessoal de cada um dos jovens, além de atender a uma demanda social – reconhece a auditora.
Alex passou dois anos na empresa, meio turno na escola, e meio turno no setor da empresa, aplicando o que aprendeu e, à noite, concluindo o ensino médio. Mesmo tímido, Alex transparece estar feliz. Só não sabe ainda se após a formatura será efetivado no departamento de compras, onde diz gostar de trabalhar. O futuro, Alex, a Deus pertence.
Audiência coletiva
A Feira da Aprendizagem Profissional terá diversas atividades. Uma das mais importantes, observa Denise, serão as audiências coletivas, promovidas pelo Ministério Público do Trabalho e a Superintendência Regional do Trabalho.
– Em Caxias, notificamos 161 empresas, e nas 43 cidades que fazem parte da região foram 167. Estas duas audiências, uma na quinta (empresas caxienses) e a outra na sexta (empresas da região), servirão de orientação aos empresários – explica.
Essa triagem das empresas que estão ou não adequadas à lei, se deve ao confronto do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (E-Social), com os dados da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).
O QUE DIZ A LEI
A Lei 10.097/2000 afirma que empresas de médio e grande porte devem contratar jovens com idade entre 14 e 24 anos como aprendizes. O contrato de trabalho pode durar até dois anos e, nesse período, o jovem é capacitado na instituição formadora e na empresa, combinando formação teórica e prática.
Os jovens têm a oportunidade de inclusão social com o primeiro emprego e de desenvolver competências para o mundo do trabalho, enquanto que os empresários têm a oportunidade de contribuir para a formação dos futuros profissionais do país, difundindo os valores e cultura de sua empresa.
Mais informações pelo site http://www.aprendizlegal.org.br/lei
PANORAMA BRASILEIRO
O Brasil poderia ter 1 milhão de jovens atendidos por esse programa, caso fosse observada a exigência legal mínima de 5% das vagas nas empresas a serem destinadas aos aprendizes. Entretanto, apenas 50% dessas pessoas estão contratadas. Ou seja, ainda há uma demanda reprimida de pelo menos 500 mil vagas no cenário nacional.
Em Caxias, existem 3 mil aprendizes contratados, mas a demanda legal deveria ser de 4.334 vagas. O maior percentual está na indústria, seguida pelo comércio e serviços, transportes, rurais e cooperativas. Observando-se o mínimo de 5%, estabelecido por lei, ainda faltariam 1.334 aprendizes a serem contratados na cidade.
AGENDE-SE
O quê: Feira da Aprendizagem Profissional, promovida pelo Fórum de Aprendizagem Profissional da Serra Gaúcha.
Quando: Quinta-feira, dia 28, das 9h às 20h, e sexta-feira, dia 29, das 9h às 17h.
Onde: Centro de Eventos da Festa da Uva (Rua Ludovico Cavinatto, 1431 - Caxias).
Quanto: Entrada gratuita.
Apoio: ARI Seccional Serra Gaúcha, empresas Bitcom e Fortaleza.
Mais informações: (54) 3220-8700 ou (54) 3238-8713.
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