A derrocada nos preços pagos pelo litro de leite desencadeou uma debandada de agricultores que largaram a atividade em busca de negócios mais promissores, no Estado e na Serra Gaúcha. De 2015 a 2017, segundo dados da Emater RS e do IBGE, pelo menos 19 mil produtores no Estado abandonaram a produção leiteira. E continua diminuindo. Na Serra, cerca de 500 famílias deixaram de ter o leite como principal fonte de renda neste período.
Os mais atingidos são os pequenos produtores. Sem condições de investir em novos equipamentos acabam largando a função e, muitos deles, indo para a cidade. O desestímulo à permanência é um dos fatores que travam o incentivo à sucessão familiar. O técnico agrícola da Emater de Nova Petrópolis Jorge Ludke garante que, nos últimos 10 meses, 50 produtores abandonaram a produção de leite no município. Em 2015, tinha 244 produtores. Este ano, o número caiu para 120.
— E vai cair mais — prevê.
A produção se mantém estável: 8 milhões de litros/ano. Um sinal de que somente os maiores conseguiram se manter no ramo, pois investiram e estrutura e novos equipamentos.
"Só conseguimos pagar os custos", diz produtor
Mauro Ponath, 27 anos, é um dos poucos jovens de Nova Petrópolis que, depois de trabalhar na indústria, voltou ao interior para dar sequência à produção de leite explorada pela família há mais de 40 anos. Com a ajuda dos pais, mantém 24 vacas que produzem 400 litros por dia.
Os valores recebidos nos últimos meses, no entanto, tiram o sono da família. Em julho, conseguiu receber da cooperativa onde entrega o produto, R$ 1,28 o litro. Com bônus (que envolve qualidade). Não fosse isso, o valor cairia para R$ 1.
— Não estamos conseguindo investir. Só pagando os custos. Nem salário temos — reclama Ponath.
Ele conta que o projeto de melhorar a fábrica de ração está engavetado. Segundo ele é ariscado fazer um financiamento para viabilizar a obra.
Enquanto isso, os custos para manter os animais produzindo aumentam. A produção da alimentação (silagem), por exemplo, aumentou cerca de 20%.
— O sal mineral (um alimento fundamental) subiu 50% — complementa o pai, Cláudio Ponath.
Conheça os municípios que mais produzem na Serra
Com menos de 10 mil habitantes, Nova Bassano é o maior produtor de leite da Serra. A estimativa para este ano é de 45,8 milhões de litros. Os números já foram maiores. Dados da Pesquisa Pecuária Municipal IBGE apontam que, em 2016, a produção do município alcançou 57, 2 milhões de litros/ano. Atualmente, 750 produtores mantêm a atividade no município.
Mas, por lá, também já começou o ciclo de abandono da atividade. Embora a Emater local não tenha dados de quantos deixaram a produção, o técnico agrícola Otávio Anzolin revela que os pequenos proprietários, que não atingem os padrões exigidos, estão desistindo.