A queda na demanda por móveis no mercado brasileiro durante a crise e o dólar valorizado frente ao real fizeram com que muitas fábricas de Bento Gonçalves voltassem as atenções para o Exterior. Em 2018, o principal polo moveleiro do Rio Grande do Sul faturou US$ 42,6 milhões com exportações, incremento de 12,5% frente a 2017, de acordo com dados do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindimóveis). E tudo indica que os negócios seguirão crescendo. Nos dois primeiros meses de 2019, as empresas da região fecharam US$ 6,1 milhões em vendas internacionais, expansão de 34,4% na comparação com igual período do ano passado.
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– Com a baixa no mercado interno, as empresas acabaram tendo de buscar outros mercados. Hoje é preciso ter um pé no mercado interno, mas também outro na exportação – salienta Vinicius Benini, presidente do Sindmóveis.
Apesar da recente trajetória de ascensão, as exportações de móveis ainda estão abaixo do montante obtido entre 2010 e 2011, quando os negócios ultrapassavam a barreira dos US$ 60 milhões anuais. Em 2019, a tendência é encurtar mais a distância até esse patamar. Benini calcula que as vendas internacionais devem subir até 14%, encostando na faixa dos US$ 50 milhões.
Os países latino-americanos são os principais destinos dos móveis produzidos na Serra. O Uruguai foi o maior comprador do polo de Bento no ano passado, seguido de Peru e Chile. O diretor internacional da Associação das Indústrias de Móveis do Estado (Movergs), Marcelo Haefliger, explica que isso ocorre em função do perfil de produção da maioria das empresas, que fazem móveis seriados para diferentes ambientes residenciais. É justamente esses itens que países das Américas do Sul e Central demandam mais.
– O polo de Bento tem como característica produzir um móvel mais econômico, pronto para montar e isso entra muito bem no mercado latino. Do México para baixo é atraente para as empresas de Bento, até porque a concorrência é menor do que na Europa e nos Estados Unidos.
Ainda assim, países como Arábia Saudita e Estados Unidos têm se inserido com mais força na pauta de exportação recentemente. Nos dois primeiros meses de 2019, o destino número um dos embarques é a terra do Tio Sam. Além do dólar na faixa dos R$ 3,80, que torna o produto gaúcho mais competitivo, o conflito comercial entre o governo estado-unidense e a China acaba abrindo espaço para algumas companhias de Bento.
Ponto de equilíbrio
Mesmo que o cenário atual favoreça a venda para fora do Brasil, a consolidação de um mercado no Exterior pode levar anos. Hoje uma das maiores exportadoras do polo, a Multimóveis começou a enviar itens para outros países ainda nos anos 1990. Em momentos de queda brusca no mercado interno, chegou a ter quase 50% do faturamento vindo do Exterior. Com a retomada dos negócios dentro do país, o peso dessa receita caiu, mas segue significativo.
– A exportação representa 30% do faturamento total. É um ponto de equilíbrio bom nos momentos de crise no mercado interno, ajudando a manter a fábrica – reforça o gerente de exportações Marcelo Zortéa.
Em 2018, os negócios internacionais da Multimóveis cresceram 15%. No momento são comercializadas em torno de 12 mil a 15 mil móveis por mês, entre racks, estantes, roupeiros e outros itens. Ao final deste ano, a meta é chegar a até 18 mil peças mensais para a exportação. A marca vende para mais de 30 países, sendo Colômbia, Peru, México e Angola os principais mercados.