Juntamente com a primeira fatura do metalúrgico L.M.C, que integra o contingente de 78,5 mil caxienses com o nome do Serasa e no SPC, chegou também uma proposta de parcelamento da dívida. Quanto? 24 vezes de R$ 97,57, perfazendo um total de R$ 2.341,68 – alta de 152%.
Em maio, o juro do cartão de crédito era de 334,5% ao ano. O metalúrgico não conseguiu decifrar a fatura, tampouco pagá-la. Era o começo da bola de neve.
— Fiquei assustado. Não acreditei no valor que vi. Achei que fosse engano — declara.
O cartão acabou bloqueado e, duas semanas depois, começaram as ligações da operadora de crédito pressionando o pagamento do valor.
— Não consigo mais dormir — confessa.
Em três meses, ela acredita que já foram mais de 100 ligações – de quatro a cinco por dia. Quando ele não atende, passam a ligar para sua esposa, colocando em risco o emprego dela também. Na última proposta, com vencimento em 4 de outubro, o valor total da fatura saltou para inacreditáveis R$ 24.371.
Para quitar de uma só vez, a operadora promete um desconto de R$ 8.340 – o saldo está em R$ 15.980 (à vista).
— Impossível pagar. Não vou tirar a comida dos meus filhos para pagar um valor tão injusto — desabafa o operário.
Para o trabalhador, ter o nome sujo no mercado é uma agonia:
— Mas de onde vou tirar? Eles (os bancos) estão agindo fora da realidade econômica de Caxias do Sul e do país.
Redução da massa salarial
Além das exorbitantes taxas do cartão de crédito e do cheque especial, a redução da massa salarial está entre as causas dos altos índices de inadimplência. Quem conseguiu retornar ao mercado de trabalho, está com o salário pela metade. No ano, este quesito caiu 10,8% segundo dados do desempenho da economia caxiense, divulgado pela CIC e CDL de Caxias do Sul.
— Enquanto a massa salarial não expandir, o comércio não vai reagir — sinaliza Mosár Ness, assessor da CDL.
Ou seja, o poder aquisitivo dos caxienses baixou e as pessoas não estão conseguindo pagaras contas. O desemprego é outro fator que agrava a situação. Se comparado com 2013, ainda falta serem preenchidos 20 mil postos de trabalho com carteira assinada.
Eram 183.173 pessoas no mercado. Em julho, os dados apontam 163.191 na indústria, comércio e serviços.
Como negociar
A CDL diz que tem movimentos contínuos para tentar negociar as dívidas, mas reconhece que está difícil. O cenário piora com a falta de perspectivas e entradas de dinheiro novo no mercado, a exemplo do que aconteceu no ano passado com a injeção de R$ 180 milhões das contas inativas do FGTS. O balcão de negociações do SPC, localizado no prédio da CDL (Sinimbu, esquina Alfredo Chaves), é possível propor acordos para saldar as dívidas.
Sete dicas para não se endividar
1 - Olho no limite
O ideal é que os limites dos cartões de crédito não ultrapassem 30% do salário ou ganho mensal, evitando, desta forma, que o gasto seja maior do que se recebe.
2 - Atenção aos parcelamentos
Ao fazer parcelas fixas, tenha consciência de que você está comprometendo os meses futuros do orçamento mensal. Lembre-se, também, que o cartão utilizado sem consciência promove compras por impulso. É preciso ter responsabilidade na hora de consumir: sempre se pergunte se realmente precisa do produto, se tem dinheiro para comprar e se tem como pagar a fatura total do cartão no seu vencimento.
3 - Evite pagar apenas a parcela mínima
O erro capital em relação ao cartão de crédito é pagar a parcela mínima e isso deve ser evitado. As altas taxas de juros cobradas acabam levando a pessoa à inadimplência. Caso não consiga pagar a parcela total, procure outra linha de crédito que não tenha juros que ultrapassem 2,5% ao mês.
4 - Evite pagar anuidade
Evite o pagamento de anuidade do cartão. Hoje, é possível encontrar cartões que não cobram nenhuma taxa de manutenção.
5 - Não empreste o cartão
Nunca empreste o cartão de crédito à outra pessoa, mesmo que ela seja próxima a você. Lembre-se que, se ela tiver dificuldades em pagar, a dívida será sua.
6 - Aproveite os benefícios
Uma forma educada financeiramente de utilizar o cartão é saber aproveitar os benefícios que o cartão de crédito pode oferecer, tais como prêmios ou milhagens.
7 - Se perder o controle, pare e faça um diagnóstico financeiro
Caso perca o controle financeiro por causa do cartão, é preciso parar e fazer, imediatamente, um diagnóstico, descobrindo o verdadeiro problema. Lembre-se que poupar o dinheiro e comprar à vista, com desconto, é sempre uma boa opção - o valor que se paga de juros mensalmente, mesmo que a princípio não pareça muita coisa, poderia ser utilizado a seu favor, e não contra, realizando sonhos individuais e coletivos da família.
Fontes: DSOP Educação Financeira e Serasa Ensina