O número cada vez maior de postos de trabalho fechados não afeta apenas o exército de pessoas que vem perdendo o emprego devido à crise. Quem segue tendo uma ocupação, mas vê colegas sendo desligados a todo momento, também sofre e se angustia. Prova disso é que o receio de perder o emprego subiu 7,8% no último mês na comparação com março passado, conforme pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). É o pior dado registrado na série desde julho de 1999.
Confira as últimas notícias do Pioneiro
Para diminuir a ansiedade e o medo, o recomendado é apostar no planejamento. Segundo a psicóloga e professora da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) Ana Claudia Zampieri, o trabalhador deve pensar em alternativas profissionais para espantar a angústia:
- Quando você vê pessoas competentes sendo desligadas, é comum ficar com medo, porque você percebe que não depende apenas do seu esforço. O recomendado então é pensar que a carreira vem na frente do emprego, e a carreira está na sua mão, ao contrário do emprego. Manter-se atualizado, qualificado e pensar em que outras áreas você poderia atuar é uma forma de minimizar a angústia - ensina a psicóloga.
É importante também que o trabalhador perceba se essa ansiedade está sendo mesmo gerada pelo cenário econômico. Se traços de insegurança e ansiedade já eram notados em outras épocas, o caso precisa de ajuda profissional.
- O trabalhador deve analisar se esse sentimento precede a retração econômica ou não. Se a ansiedade não for infundada, se ela é parte de um cenário real e profissional, é importante pensar em um plano B, focar em ser fundamental para a empresa e assim se colocar "no final da fila" das demissões - analisa Júlio Pachalski, psicólogo clínico da Wainer Psicologia Cognitiva.
Além dos trabalhadores, o quadro emocional gerado pela crise deve ser uma preocupação dos empregadores. O presidente da ARH Serrana, Fernando Guerra, destaca que, mais do que tratar, as empresas devem evitar que um clima de angústia se instaure.
- Os funcionários precisam conhecer a realidade da organização. É complicado ver o mundo desmoronando e não saber como está a empresa que trabalho. Se o pânico for instalado, o efeito na produtividade é imediato - ressalta.
Para Guerra, duas palavras devem nortear o relacionamento empresa X empregador: transparência e comunicação.
"Temor não é prática de gestão"
Aproveitar a crise para instalar um clima de ameaça na empresa pode gerar danos permanentes na produtividade, avalia o presidente da ARH Serrana, Fernando Guerra.
Quando o terrorismo aparece, o funcionário deixa de confiar na companhia:
- Depois que o pânico é instalado, a recuperação é muito lenta, isso continua na empresa mesmo depois que a crise passa. Os trabalhadores precisam se sentir parte do negócio, confiar na empresa - ensina.
Ainda segundo Guerra, independente de qual for o cenário econômico, "temor nunca é uma boa prática de gestão".
Investimento em clima traz resultados
Estar atento ao clima da empresa não é uma orientação exclusiva para tempos de retração. Pelo contrário: empresários e líderes organizacionais devem manter a temática em pauta durante todo o tempo.
É isso que faz, há cerca de cinco anos, a OU Martiplast. Desde que colocou em prática um novo planejamento estratégico, a empresa adota uma série de medidas voltadas ao bem-estar dos funcionários, como uma pesquisa anual de clima.
- Sem dúvidas, essa preocupação que já existia antes da retração tem amenizado muito o cenário agora, evitando um clima pesado. É fundamental pensar no clima antes das crises, até porque em períodos de retração as empresas têm menos verba para investimento - ensina Graziela Pimentel Bueno, gerente de Recursos Humanos da empresa.
A pesquisa de clima da empresa, aplicada em parceria com a ARH Serrana, abrange inúmeros temas, como qualidade de vida, liderança e comunicação. O resultado do levantamento fica disponível para todos:
- Mostramos a pesquisa toda, na íntegra, não só os melhores resultados. Uma das melhorias que já notamos desde a aplicação do levantamento é uma permanência maior de funcionários com até um ano de empresa. Antes tínhamos uma rotatividade maior - avalia Graziela.
Atualmente, a Martiplast conta com 200 funcionários. Embora a crise geral tenha atingido a empresa, ela chegou com menos intensidade na companhia, já que o ramo de plástico teve menos impactos que o metalmecânico. Mesmo assim, o turno da noite da Martiplast chegou a ser fechado, com o desligamento de cerca de 15 pessoas:
- O importante é falar da situação da empresa sem deixar ninguém de fora. Assim, tem como a empresa sair fortalecida da crise.
Mercado de trabalho
Especialistas ensinam como driblar o medo de perder o emprego
Receio de perder o posto profissional disparou 7,8% no último mês na comparação com março passado
Ana Demoliner
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project