Os números cada vez mais expressivos de demissões não são exclusividade de Caxias do Sul. A retração atinge praticamente toda a Serra Gaúcha, como reflexo da desaceleração econômica nacional. Se considerarmos cinco das principais cidades da região, já são mais de 18 mil vagas fechadas em um ano e 11,7 mil somente em 2015. Dessa lista, Gramado é a única com saldo positivo, enquanto Caxias, Bento Gonçalves, Farroupilha e Vacaria acumulam demissões mês a mês.
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Apesar do impacto ser geral, segue sendo de Caxias o desagradável posto de cidade que mais registrou desligamentos. São 9,7 mil demissões em 2015 e 13,9 mil em um ano. Até mesmo proporcionalmente, ou seja, levando em conta as diferenças de tamanho entre as cidades, o município lidera o ranking: o índice de empregabilidade neste ano caiu 5,74%.
- Caxias sente mais a retração em função da concentração da matriz econômica na indústria metalmecânica. Precisamos procurar, para o futuro, uma diversificação do nosso parque industrial para que a cidade seja menos dependente de um só setor - avalia Alexander Messias, diretor de Economia, Finanças e Estatística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC).
Depois de Caxias do Sul, Bento foi a cidade da Serra que mais demitiu, com 1,8 mil postos fechados em 12 meses, sendo 1,1 mil só neste ano. A indústria moveleira, a principal atividade econômica de Bento e o maior polo do segmento no país, é responsável por boa parte desses desligamentos. Segundo Ivo Cansan, presidente da Associação das Indústrias de Móveis do RS (Movergs), só em 2015 o setor fechou cerca de mil vagas.
- A empregabilidade caiu menos do que a produção, já que apresenta queda de 9,5%, enquanto o setor deve fechar o ano com prejuízos de 15%. Essa disparidade ocorre porque o empresário precisa manter certo número de funcionários para escalas e turnos, senão teríamos ainda mais demissões. O setor enxugou tudo o que deu, não tem mais de onde tirar da produção. Se o cenário piorar ainda mais, teremos que eliminar a partir de agora mão de obra qualificada - acredita Cansan.
Vacaria está próxima de Bento e acumula 1,7 mil demissões em 12 meses. É a agropecuária, porém, e não a indústria, o principal setor que demitiu. Foram 1,3 mil demissões nesse ramo da maior produtora de maçã do Estado e uma das principais de todo o país.
Já Farroupilha, apesar de ter saldo negativo nos postos, sentiu menos a retração e registra 870 postos fechados nos últimos 12 meses. A indústria, liderada pelo ramo metalmecânico, plástico e malheiro, contabiliza 569 demissões no período. O impacto menor da crise na cidade é explicado justamente pelo que falta em Caxias (e potencializou a queda no mercado de trabalho): a diversificação da matriz econômica.
Gramado ainda gera empregos
Na contramão de outros municípios da Serra, Gramado ainda está gerando empregos. Nos últimos 12 meses, o saldo é de 296 novos postos de trabalho. O setor de serviços (leia-se ramos vinculados ao turismo) gerou, sozinho, 441 vagas, neutralizando a queda de 243 na indústria.
- Sentimos menos o impacto porque temos um calendário de eventos que contempla a baixa temporada, para assim não sofrermos tanto com a sazonalidade, problema sério no turismo - explica Fernando Boscardin, presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares e Similares da Região das Hortênsias (SindTur).
O dirigente destaca ainda que eventos como o Natal Luz, que reúne mais de dois milhões de pessoas, exigem preparação do setor:
- Muitos empresários mantêm o quadro para chegar nos períodos mais movimentados, como agora, com a equipe treinada, pronta.
Em menor escala, a retração se faz notar: a ocupação dos hotéis para o Natal Luz está em média 10% menor do que no ano passado.