O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) divulgou nesta semana os dados do Censo da Indústria Vinícola do Rio Grande do Sul. A pesquisa, realizada pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) a pedido da entidade, reuniu números, traçou o perfil das empresas vinícolas gaúchas e também jogou luzes sobre dificuldades enfrentadas pela área de produção.
Entre as queixas relatadas pelos vitivinicultores estão a dificuldade de conseguir mão de obra para a safra, a falta de pessoal qualificado para trabalhar na área de produção vinícola e no desenvolvimento de novos produtos.
O levantamento, que ouviu 346 empresas produtoras de uva, vinho, espumante e suco de uva em todo o Estado entre setembro de 2013 e maio deste ano, também constatou ainda a pouca profissionalização nos modelos de gestão dos empreendimentos e a resistência em utilizar financiamentos bancários para a ampliação dos negócios. No Estado, segundo o Ibravin, existem 545 vinícolas ativas registradas no Cadastro Vinícola.
Esse é o primeiro levantamento realizado pelo Ibravin sobre o setor nesses moldes, explica o diretor executivo do instituto, Carlos Paviani.
- No cadastro vinícola, havia em torno de 750 estabelecimentos registrados. Frequentemente, enviávamos correspondências e não recebíamos retorno de uma grande parte. Esse foi o primeiro objetivo do censo: conseguir nos comunicar com essas empresas, conhecê-las. Depois, a intenção era entender qual o perfil dos empreendimentos e saber o que esperam do Ibravin e o que o Ibravin precisava lhes entregar em termos de promoção e desenvolvimento do setor - explica.
A escassez de pessoal capacitado, segundo Paviani, se deve à grande oferta de vagas e da concorrência como outros segmentos como as indústrias metalmecânicas e moveleiras, além do comércio e prestação de serviços.
A falta de qualificação também atinge quem administra o negócio da vitivinicultura. Segundo o censo, cerca de 86% das vinícolas não contam com equipe específica para vendas, sendo os proprietários os responsáveis pelo setor.
- Grande parte são empresas familiares, que têm uma gestão muito simplificada. Muitas vezes, a mesma pessoa cuida do cultivo das uvas, elabora o vinho, comercializa e administra o negócio - exemplifica Paviani.
- Não há uma profissionalização. Isso se percebe inclusive nas suas ações de divulgação e processos internos. Em razão disso, dependem muito do boca-a-boca para divulgar seus produtos - resume os dados o professor Fabiano Larentis, coordenador do curso de Comércio Internacional do Campus Universitário da Região dos Vinhedos (Carvi) e docente do programa de pós-graduação em Administração (PPGA), que coordenou a pesquisa junto com Cíntia Paese Giacomello, diretora do Centro de Ciências Exatas, da Natureza e da Tecnologia do Carvi.
Entre as alternativas apontadas pelo diretor para assistir à categoria na questão de pessoal estariam ações de aperfeiçoamento, como cursos profissionalizantes via Pronatec, por exemplo.
- Atualmente, estamos na fase de planejamento de ações. A partir desses resultados, iremos trabalhar questões mais específicas, como por exemplo fazer convênios com o Pronatec, por exemplo, para proporcionar cursos de treinamento e de em gestão para funcionários e para os empreendedores. Além disso, devemos estimular o plantio de variedades que amadureçam antes ou depois da safra, podendo ampliar o período de colheita e melhorar o aproveitamento dos trabalhadores - destaca Paviani.
O censo mostrou ainda que a maioria das empresas (85,8%) tem até nove funcionários. Com relação à receita bruta anual, 61% dos empreendimentos ouvidos ganham até R$ 360 mil e 24,9%, entre R$ 361 mil e R$ 3,6 milhões. Isso significa, portanto, que pelo menos 85% deles são micro ou pequenas empresas. Na Serra Gaúcha, que tem a maior área plantada no Estado (2.649 hectares), cada vinícola possui em média 8,7 hectares de vinhedos plantados (41,1% viníferas e 58,9% americanas), enquanto a Campanha tem média de 77,8 hectares por vinícola, sendo 100% de variedades viníferas.
Ao focar a questão do enoturismo, a pesquisa mostrou que apenas 86 das 346 empresas entrevistadas relataram ter algum tipo de ação. Entre essas, a grande maioria, 79%, está inserida em algum roteiro turístico, sendo o Vale dos Vinhedos o referencial mais citado. Dentre os que não possuem ações ligadas aos enoturismo, aproximadamente 42% têm intenção de desenvolvê-las nos próximos cinco anos.
A maioria das vinícolas com ações de enoturismo recebeu, em 2013, até 500 visitantes, sendo predominantemente famílias. Na maioria dos casos, os visitantes ficam sabendo a respeito da vinícola por recomendações de amigos ou familiares. A internet foi citada por 48% das vinícolas.
Uva e vinho
Ibravin traça perfil do setor vitivinícola no Rio Grande do Sul
Serra tem a maior área plantada: 2.649 hectares, sendo 58,9% de uvas da variedade americana
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