Com o mesmo motivo em mente que move milhares de trabalhadores a virem anualmente para Caxias, Astor Milton Schmitt, 70 anos, chegou na cidade em 1966 para trabalhar na indústria. Natural de Vera Cruz, o estudante de Engenharia Mecânica havia tomado conhecimento de uma vaga de estágio em uma empresa do município. A diferença de Schmitt para os trabalhadores que vêm atualmente para Caxias em busca de uma oportunidade de prosperar na indústria é que na época a cidade ainda não era uma referência tão significativa no setor e, se agora ela é, deve isso também a ele.
- Vivo em Caxias há 47 anos e, como já fui homenageado pela Câmara de Vereadores com o título de Cidadão Caxiense, costumo dizer que sou caxiense de fato e de direito - brinca.
A vaga de estágio que Schmitt ocupou há 47 anos era na Carroceiras Nicola S/A, hoje Marcopolo. Foi nas Empresas Randon, porém, outra gigante da indústria caxiense, que ele mais fez história.
Por 36 anos, o executivo que fala fluentemente seis idiomas (alemão, inglês, italiano, francês, espanhol e português), ocupou lugar de destaque no grupo que é uma das maiores potências do setor metalmecânico e gera um faturamento anual de mais de R$ 5 bilhões. Há cerca de 15 dias, como parte do Programa de Sucessão implementado pelas empresas, Schmitt comunicou sua despedida da diretoria corporativa e de relações com investidores da Randon Implementos e Participações.
Apesar do afastamento, Schmitt destaca que se manterá ligado às Empresas Randon como acionista e integrante dos Conselhos de Administração e Consultivos. Em entrevista ao Pioneiro, Schmitt ressaltou também que permanece à disposição para contribuir (ainda mais) com o setor compartilhando as experiências vivenciadas. Confira alguns trechos:
Pioneiro: Como o senhor avalia o crescimento da indústria na Serra nesses 36 anos de Randon?
Astor Milton Schmitt: O polo metalmecânico de Caxias, que é o motor da nossa economia e representa algo como 60% da economia local, segundo dados do Simecs, tem andado na onda do próprio crescimento do Brasil e tem também se diferenciado por uma perfomance que vai além do crescimento da economia nacional. Isso transformou uma série de empresas do segmento referência nacional, referência internacional, e também em alguns casos, absoluta liderança nacional. Nomes como Randon, Marcopolo, Agrale, Fras-le, só pra citar alguns exemplos, são hoje total referência no seus segmentos de atuação. As empresas Randon, ao longo dos últimos 15 anos, se contarmos no período que vai de 1997 até 2012, tiveram um crescimento anual médio superior a 15%. Isso é um ritmo de crescimento maior do que chinês e exatamente em função disso as empresas assumiram relevância e se destacam de forma marcante.
Pioneiro: O senhor não acha que empresariado da Serra deveria se envolver mais com política, ser mais atuante?
Schmitt: Acho que o empresário é um ator da sociedade civil, assim como é o trabalhador e o governante. Então, evidentemente o empresário deve ter uma participação ativa, até porque é ele que assume os empreendimentos, investe, corre o risco e, portanto, penso que contribui de forma positiva para o crescimento e para o bem estar da sociedade. Sendo um agente muito ativo, ele tem não só o direito, mas a obrigação de opinar e ser ouvido.
Pioneiro: E o senhor aceitaria um convite para concorrer a algum cargo público?
Schmitt: Confesso que nunca pensei nisso.
Pioneiro: Qual conselho o senhor daria para um jovem empresário?
Schmitt: Acho que um jovem empresário deve ter no DNA um espírito empreendedor em primeiro lugar, ou seja, ter a disposição de não só perceber as oportunidades, como empreender sob as oportunidades, aceitando os riscos que isso eventualmente pode conter. Penso que um bom empreendedor precisa além do seu DNA, contar com algumas coisas que ao longo da vida eu passei a reconhecer como importantes. Primeiro: acreditar no capital humano. Gente bem preparada, comprometida e adequadamente recompensada é um fator importante para o sucesso de um empreendimento. Segundo: não só fazer bem feito, porém também inovar e oferecer sempre produtos que surpreendam o cliente. Terceiro: um empresário que quer ser bem sucedido precisa frequentemente também aceitar parcerias como instrumento de expansão e de desenvolvimento quando os recursos próprios não alcançam sozinhos as necessidades ou as oportunidades. Quarto: penso que um empresário bem sucedido também tem que cuidar muito da maior majestade de qualquer negócio, que é o cliente. Porque é o cliente que, afinal, é quem paga todas as contas de qualquer empreendimento. Empreendimento que não tem cliente não existe.
Pioneiro: Com a saída da diretoria da Randon, quais são seus planos para o futuro?
Schmitt: Deixei a diretoria corporativa da Randon no dia 17 de abril. No comunicado, eu dizia que sem dúvida nenhuma eu sigo tendo um vínculo com o grupo através de Conselhos de Administração e Consultivos, além da representação da companhia em alguns fóruns e no associativismo. Dizia isso lá e reconfirmo que isso deverá continuar. Mas também penso que vou ter a oportunidade de eventualmente colaborar em algum tipo de projeto ou iniciativa de mercado ou eventualmente atuar e participar de conselhos de empresas e coisas do gênero (Schmitt é Conselheiro de Administração certificado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa_ IBGC). E isso tem tudo a ver com aquilo que, eu acho que no meu estágio de vida, assume uma importância crescente que é encontrar meios de compartilhar com os outros a experiência vivenciada.
Leia mais sobre o assunto no Pioneiro deste final de semana.