Eu sou um carnavalesco de fundo de sofá. Minha inserção na popularíssima Folia de Momo se manifesta pela (e se restringe à) minha presença estática defronte ao aparelho de televisão, por meio do qual faço aparições zapeadas alternadas e intermitentes nos principais bailes de Rio e São Paulo e confiro em detalhes (com as câmeras exclusivas) os melhores lances flagrados dos desfiles das escolas de samba dessas duas capitais. Nos pisos dos boxes dos banheiros que ao longo de minha meio-secular existência abrigaram os banhos pós-carnavalescos que tomei jamais jorraram ralo abaixo quilos de purpurina, metros de serpentina, glitter, cocares, tangas, sungas, abadás. Na totalidade das vezes, amanheci a quarta-feira de cinzas de boca semiaberta, adormecido no mesmo sofá. E inteiro.
Opinião
Marcos Kirst: sem perder o rebolado
Sou um carnavalesco estático, passível de ser confundido com um poste na avenida
Marcos Kirst
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