Nos Estados Unidos e na Europa, há uma ideia do que "deva ser" a literatura latino-americana. A partir de autores consagrados como Gabriel García Márquez e o brasileiro Jorge Amado, acredita-se que esses são modelos fechados e que não servem àqueles mercados - ou, ao contrário, quando aparece algo diferente, há uma sensação de estranhamento, de "isso não é literatura latino-americana, não é literatura brasileira".
A análise é do escritor mexicano Juan Pablo Villalobos, que participou de um bate-papo com o público no início da noite desta terça-feira, no Auditório da 28ª Feira do Livro de Caxias do Sul. Primeiro nome internacional a participar desta edição da Feira, o autor do romance Festa no Covil (seu livro de estreia, já traduzido para 14 idiomas) avaliou que essa é uma ideia muito restrita da literatura.
- Porém, nada mais latino-americano do que não querer parecer latino-americano - brincou, ressaltando acreditar que as condições em que se vive condicionam a escrita: - Momentos bons nos países geram literatura 'light', e momentos ruins, literatura mais forte.
No seu primeiro livro (o segundo saiu há poucos dias na Espanha, e chega ao Brasil no ano que vem), por exemplo, essa ligação com a realidade se revela na questão do narcotráfico e da violência, aspectos abordados na voz do narrrador-protagonista infantil, Tochtli, o filho de um poderoso traficante. E um dos personagens, o tutor do menino, tem um lado esquerdista, mas de uma esquerda amarga, sem poder, contraposta ao poder do chefão das drogas - essa oposição também se dá pelo fato de o professor representar a cultura livresca, e o outro homem, a da experiência, da "escola da vida".
Juan Pablo Villalobos também revelou que Festa no Covil acaba de ter os direitos vendidos para um filme, que deverá ser dirigido por uma gaúcha (ele não revela o nome dela, porque o contrato ainda está por ser assinado). E falou que pretende fazer uma trilogia, embora não com os mesmos personagens: enquanto o primeiro livro aborda a infância, o segundo trata da adolescência, e o terceiro deverá falar da velhice, sempre tendo como pano de fundo a situação do México atual.
Feira do Livro
Por uma literatura sem rótulos
Escritor mexicano Juan Pablo Villalobos conversou com leitores na Feira
Maristela Scheuer Deves
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