Seguindo o cronograma que os jornalistas Carina Furlanetto e João Paulo Mileski tinham planejado meses atrás, a dupla estaria neste momento vivendo aventuras entre o Maranhão e o Piauí. Mas uma inesperada pandemia cruzou o caminho do casal — e do mundo —, o que acabou antecipando o retorno para casa. Como a foto em frente à Pipa Pórtico indica, os dois já estão em Bento Gonçalves (chegaram nesta segunda 13) e, por enquanto, ainda não há previsão para colocar na estrada novamente o projeto Crônicas na Bagagem, iniciativa que tem guiado a vida da dupla desde fevereiro de 2019. Carina e João voltam para casa depois de mais de 50 mil quilômetros rodados em mais de um ano a bordo de um Sandero 1.0. O plano ousado de dar a volta pela América do Sul foi concluído, mas o objetivo deste ano, de viajar por vários cantos do Brasil, acabou interrompido por conta dos riscos da pandemia.
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— Em março, a gente estava em Barreirinhas, uma das cidades bases para acessar os Lençóis Maranhenses. No dia que a gente fez o último passeio programado, recebemos a informação de que no dia seguinte os parques nacionais iam fechar — lembra Carina.
— Daí vimos que a situação era grave — complementa João.
A decisão de interromper a viagem, porém, ainda levou uns dias para ser tomada. Primeiro, os dois haviam decidido ir para Recife — onde vive a irmã de Carina — e dar um tempo até as coisas se normalizarem. Mas a preocupação com os pais idosos, moradores de Bento, acabou pesando.
— Não foi uma decisão fácil, acho que pode até se comparar com um luto. A primeira fase foi a negação, a gente demorou a entender que talvez fosse ter que dar esta pausa. A gente chorou bastante, refletiu, mas decidimos com o coração. Faz 14 meses que não vemos nossos pais, nunca tínhamos ficado tanto tempo longe. Estamos nos apegando a isso, em estar do lado deles agora — diz Carina.
O casal também acredita que teve sorte por estar percorrendo o solo brasileiro no momento em que a situação de pandemia começou a ficar mais grave. Muitos amigos viajantes que estão em outros países, acabaram impossibilitados de voltar por causa de fechamentos de estradas e fronteiras.
— Temos amigos que estão sofrendo muito preconceito, porque as pessoas veem que é um estrangeiro e já acham que pode ter o vírus e tudo mais. Entre aspas, demos sorte de estar no Brasil quando a pandemia estourou — opina João.
O retorno à terra natal era programado pela dupla somente para 2021, mas o momento não é de lamentações. Carina e João pretendem dar continuidade ao Crônicas na Bagagem postando fotos de arquivo e investindo em alguns textos inéditos nas redes do projeto. O tempo de distanciamento social também servirá para que os dois dediquem-se à produção do livro da iniciativa, uma compilação dos melhores textos publicados por eles na viagem junto com alguns textos novos.
Mirando a possibilidade de voltar à estrada, porém sem nenhuma perspectiva concreta com relação a isso, a dupla decidiu manter alugado o apartamento onde morava. Enquanto a retomada da viagem ainda está apenas no plano das ideias, os dois buscam acalento na história de superação e aprendizado vivida até aqui.
— Por um lado a gente pode ficar triste por ter que interromper prematuramente um sonho. Mas, por outro lado, rodamos mais de 50 mil quilômetros num carro 1.0. Fizemos o que todo mundo dizia que não ia dar, que ia na contramão do que todo mundo prega para uma aventura como esta. Passamos por lugares que diziam ser difícil com um carro assim, como o Deserto do Atacama, subimos a cinco mil metros de altitude, subimos em vulcão, fomos ao Monte Roraima... Essa sensação de dever cumprido está prevalecendo neste momento — diz Carina.
A vida na estrada também moldou muitos aprendizados e visões de mundo para a dupla. Se Carina e João não são mais as mesmas pessoas que saíram de Bento para ver o mundo há pouco mais de um ano, certamente também não serão as mesmas pessoas que voltarão à estrada depois da pandemia. A vida é movimento, mesmo quando se está parado.
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