A minha vizinha pensa que eu morri. Uma leitora pediu para a minha prima investigar se eu estava com algum grande problema. Já um outro conhecido quis saber o que estava acontecendo: é doença? Você está com depressão? Teve até quem veio, sem mais nem menos, oferecer algumas palavras de suporte e dizer que tudo vai ficar bem.
Acontece que tudo está perfeitamente bem.
Quando eu decidi desativar temporariamente as minhas redes sociais, eu não sabia exatamente quais efeitos colaterais o meu gesto teria. Até imaginei que uma ou outra pessoa iria ficar curiosa, ou talvez pensar que eu havia sido hackeado. Contudo, o resultado foi o oposto: pouco mais de dois meses afastado foi o suficiente para pensarem que eu já nem mais existo neste mundo.
Quando a minha vizinha me enxergou saindo do prédio foi como um choque. Acho que ela deve ter imaginado que estava vendo fantasmas quando cruzou comigo e quis saber do meu paradeiro. A sua defesa foi de que nunca mais tinha me visto publicando nada nas redes sociais e, então, ela imediatamente pensou que eu estava mal _ do sentido triste pra valer. Foi só eu avisar para ela que tinha excluído tudo porque queria dar uma chance para a vida real que ela ficou mais incrédula ainda. Onde já se viu não estar presente no Instagram e/ou Facebook em pleno 2018?
A minha ideia nem foi tão radical assim. Quis desaparecer porque precisava me concentrar no trabalho, reparar as pessoas de verdade afim de (tentar) entender o ser humano para poder criar um novo projeto. Acabei me assustando, é claro. Parece que quando você não tem nenhum desses aplicativos no seu celular, a vida dá aquela murchada. E agora, o que é que eu vou fazer?
Produzi muito. Observei muito. Aproveitei muito. Não me preocupei em nenhum momento, durante todo esse tempo, em informar onde eu estava, com quem estava, qual era a comida no meu prato ou o look do dia. E, não: esse não é nenhum manifesto anticapitalismo plus era digital. A minha decisão foi temporária, porque eu realmente gosto de determinados pontos que as mídias sociais nos proporcionam. Porém, quando você assiste tudo isso de fora dessa grande bolha na qual estamos inseridos, o choque é gigantesco. Dá medo mesmo.
Eu poderia ficar aqui escrevendo por umas dez páginas sobre a minha experiência no mundo real. Sobre como as pessoas são engraçadas quando estão na mesma mesa e mexem no celular ao mesmo tempo, sem sequer trocar um único olhar. Sobre como temos essa necessidade de mostrarmos que, sim, ainda estamos vivos. E felizes. E viajando. E jantando com os amigos. E comprando roupas novas. E consumindo a coisa do momento. E vivendo.
"Vivendo".
Eu não sei se a minha vizinha vai ler essa crônica, mas lá vai: estou sem redes sociais no momento, longe da depressão ou qualquer sentimento negativo. Sim, pode acreditar, mesmo eu sabendo que é difícil levar a sério: estou vivo. E feliz.