Enquanto o Sol passeia por Câncer, a memória me devolve, por insuspeitadas conexões, o difícil momento em que minha avó, já acamada e tomada pela demência da idade, me encarou com olhar vazio, sem mais me reconhecer. Saí do quarto dela para chorar sozinho no quintal. Toda uma parte vital de mim, tecida em afetos e cumplicidades, se esvanecia junto com a própria mente dela. Aquilo doeu demais, porque decretava que dali por diante ela já não seria a minha avó, mas um corpo que somente aguardava a falência final dos órgãos. Doeu porque também constatei que eu havia morrido para ela. Meu choro foi por ela e por mim. Ai, vida, tens dessas coisas...
Sol passeia por Câncer
Opinião
Nossa memória sob bombardeios
Morremos um pouco a cada dia no esquecimento alheio, e essa dor vem caracterizando nosso tempo
Nivaldo Pereira
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