As medalhas de ouro, prata e bronze que o Brasil já conquistou são praticamente testemunhos do milagre dos talentos que brotam nos recantos mais inimagináveis e nos contextos mais improváveis.
É a filhinha da faxineira que tinha o apelido de “Daianinha dos Santos” porque imitava perfeitamente as acrobacias de uma das maiores ginastas da história enquanto acompanhava a mãe no trabalho. É o guri hiperativo de quem as outras crianças debochavam pela escolha de um esporte meio esquisito (a marcha atlética) e que mesmo assim nunca desistiu. É a menina delicada vestida de fadinha treinando manobras de skate numa calçada qualquer. São os inúmeros judocas de todas as raças, credos e classes sociais que praticam um esporte asiático milenar criado do outro lado do mundo e o popularizaram num país tropical que hoje é referência no certame.
O que todos esses atletas talvez tenham em comum é o fato de que o contato com a prática esportiva iniciou num pequeno ginásio municipal, ou numa pracinha, ou no clube da cidade, quase sempre por meio de algum projeto social de incentivo ao esporte. Todo final de semana certamente há dezenas de crianças do seu bairro praticando algum esporte como brincadeira ou como um passatempo saudável. Ninguém começa a praticar um esporte tendo como objetivo conquistar uma medalha olímpica, mas o sonho talvez já esteja se formando lá dentro do coraçãozinho de cada um. O chamado da inspiração pode surgir quando acompanha um torneio escolar ou a etapa de algum campeonato regional organizado de forma humilde e com poucos recursos. E, a cada quatro anos, de olhos grudados na televisão — ou hoje no YouTube — a inspiração se torna motivação enquanto acompanham o maior evento de todos, os Jogos Olímpicos.
Os esportes são populares porque são uma representação universal e muito verdadeira da condição humana com todos seus desafios, obstáculos, superação, preparação, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, rivalidade e comunhão. Ser classificado para disputar as Olimpíadas sem dúvida é uma das máximas conquistas que uma pessoa pode obter na sua vida. Credencial na mão, malas prontas, o que será que passa na cabeça de cada um que chega lá? Não tenho dúvidas de que uma das coisas nas quais todo atleta olímpico deve pensar no momento de competir no palco máximo de sua modalidade é na pessoa que, pela primeira vez, viu numa criancinha um campeão.
Pode ter sido um professor ou uma professora de educação física, pode ter sido o pai ou a mãe, pode ter sido o treinador do clube, um árbitro dos jogos escolares: os olheiros estão por toda a parte. Nada deve ser mais gratificante na vida de um adulto do que ver potencial em alguém e ajudar a revelar e a formar não só um atleta, mas um profissional, um multiplicador de conhecimento, um cidadão que nos dê orgulho. Os talentos estão em toda parte só esperando alguém bater o olho e acreditar.