O Carnaval do Rio de Janeiro vestirá uma fantasia polêmica neste ano. A escola de samba Imperatriz Leopoldinense levará ao desfile o enredo Xingu: o clamor que vem da floresta, com supostas críticas aos impactos do desmatamento ilegal e dos agrotóxicos. Seria uma homenagem à natureza e às tribos indígenas, e uma crítica ao homem que ameaça sua sobrevivência. O assunto gerou irritação no setor do agronegócio nacional, inclusive da Serra.
Em carta, Olir Schiavenin, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, repudia a abordagem generalista, dizendo que ela causa preocupação e indignação.
– Trata-se de um equívoco, um preconceito e um desrespeito aos agricultores brasileiros que são respeitados e reconhecidos no mundo inteiro. O samba-enredo da escola insinua que a destruição da natureza está ligada à produção agrícola, atribuindo ao agricultor a culpa de devorar matas, secar os rios e contaminar o meio ambiente com o uso dos agrotóxicos, o que não é verdade. Não se pode admitir a divulgação de ideias erradas sobre a atividade agrícola – critica.
Schiavenin salienta que “o produtor rural é severamente fiscalizado e cumpre com todas as normas e regras ambientais estabelecidas.”
– Os avanços tecnológicos têm permitido uma produção agrícola cada vez mais sustentável e os nossos produtos são certificados. Os agricultores são os que mais se preocupam e preservam o meio ambiente, pois é da natureza que provém o sustento de suas famílias – pontua.
A liderança, conhecida por seu trabalho a favor dos setores vitivinícola e do alho, termina a carta evidenciando um dado que, segundo ele, poucos conhecem e merece ser enaltecido: o Brasil tem 61% do seu território coberto por matas, muito acima dos 20% exigidos por lei. Em outras manifestações do setor agrícola, aparecem outros dados: o agronegócio representa 22% do PIB e gera 37% dos empregos do país, e seria responsável por “salvar o Brasil da bancarrota há décadas”.
– Nossa crítica se baseia no uso indevido de pesticidas que poluem rios, matam peixes e causam danos muito sérios na vida do ser humano, assim como outras agressões à natureza que levam os índios ao desespero. A escola nunca pretendeu ofender o agronegócio, foram eles que se sentiram aludidos – defende o carnavalesco da Imperatriz, Cahê Rodrigues.
Caixa-Forte
Samba-enredo de escola do Rio causa reação de lideranças rurais
Críticas da Imperatriz Leopoldinense ao impacto do desmatamento e dos agrotóxicos provocam manifestação de lideranças, inclusive da Serra
Silvana Toazza
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