Domingo foi Dia dos Pais. O meu pai é um homem incrível. Nasceu dele o meu desejo de escrever e gostar de notícias. Ele faz a melhor gemada batida com farinha de milho do mundo. Na minha infância varamos as tardes assistindo filmes alternando gemada com pipoca doce.
Enquanto conversávamos, no dia dele, à distância e com máscaras, lembrei que uma única vez na vida eu lhe faltei com o respeito. Devia ter uns 11 anos, idade bem propícia aos rompantes mal educados que todo ser humano um dia vive. Havia aprendido algo na escola e quando cheguei em casa comentei. Meu pai, seu Osvaldo, disse que não sabia e eu, no auge da minha petulância adolescente, o chamei de ignorante. Lembro como se fosse hoje, ele estava de costas para mim, virou-se, agachou-se até ficar com o nariz colado no meu nariz com um olhar fulminante e eu, a essa altura, já estava pedindo mil desculpas querendo explicar o que não tinha explicação alguma. Ele me deu as costas, estávamos na área de serviço, ele mexendo nas ferramentas, a mãe no tanque, eu ali, borboleteando em volta deles. Foi até o tanque, pegou sabão de soda e um escovão de chão, veio em minha direção e mandou que eu abrisse a boca o máximo possível. Foi horrível, até hoje me lembro desse fato com uma mescla de vergonha e comicidade. Eu jurei que jamais faltaria com o respeito com ele, pedi desculpas por tê-lo chamado do que chamei e nada demovia meu pai da ideia de lavar a minha boca. Quando eu já não continha mais o choro e o medo de sei lá o que acontecer, ele me disse: posso não ter ido para a escola, ser peão de fábrica, mal saber ler e escrever, mas o fato de tu estar frequentando uma escola, ter uma vida melhor do que a que eu tive na tua idade, não te faz melhor do que ninguém para ficar cantando de sabichona. Não criei filha para ser arrogante, muito menos por estar estudando. O que tu aprender tem que te fazer uma pessoa melhor, senão não adianta nada saber ler e escrever.
Essa foi uma das lições mais lindas que levo de legado de meu pai. O conhecimento serve para nos fazer seres humanos, não melhor que os outros, mas humanos. A segunda lição que fica é que ser mal educado com os mais velhos tem idade. Na adolescência até é compreensível ter de lidar com uma certa rebeldia sem causa, mas depois dos 16 anos é inaceitável que um filho falte com respeito com os pais. Nessas horas eu lembro de minha mãe, amorosa, mas durona, se esta casa não está como você gosta, então está na hora de ter a tua própria. Pode parecer ríspido esse tipo de comportamento, mas tenho certeza, que olhando para trás, eu só sou quem sou e só cheguei aonde cheguei porque o amor veio com disciplina, pois amar é impor limites, frustrar, questionar e literalmente, empurrar para o mundo.