Quem me conhece sabe que sou apaixonada pela cozinha e todo o seu entorno. Adoro os aromas de temperos sendo misturados, o casamento perfeito entre a beterraba e a laranja, a textura do cogumelo salteado, o molho de amendoim envolvendo a massa, a farinha de grão-de-bico nas empanadas de atum, o trigo saraceno na elegante galette, a passata de tomate com manjericão, o coentro, a páprica defumada, a batata ao murro com alecrim, o confit de tomate na torrada de pão de azeite, os vegetais cortados com a obsessividade brunnoise e todo tipo de panaché, mesmo no inverno. Os verbos gastronômicos também estão entre os meus preferidos: clarificar, selar, saltear, refogar, marinar, flambar, emulsionar. Há uma poesia que perpassa a linguística e a técnica e atinge as profundezas de nosso estômago e psiquismo. Dias atrás estava lendo um livro delicioso chamado O banquete de Psiquê e lá o autor, que é também psicanalista e apreciador da boa mesa e bom vinho, dizia que antes do sexo vem a boca, por isso, antes da cama, a mesa. Ele faz uma brincadeira deliciosa ao dizer que nossas neuroses nunca vêm sozinhas, geralmente vêm acompanhadas de achocolatados de baixa qualidade, farinhas em excesso, refrigerantes e fast food, ou seja, padecemos de má nutrição. Quando nos alimentamos estamos realizando no mínimo duas ações nutritivas: uma diz respeito ao corpo e a outra, o nosso psíquico. Por isso, as comidas de infância nos são tão caras e importantes.
Opinião
Adriana Antunes: banana-verde gratinada
Nasci com a boca aberta e me alimento ao alimentar os que amo com desejos de doces, memórias, alho, poesia, sonhos e vida, tudo gratinado no divã
Adriana Antunes
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