Muito tempo se passou desde o lançamento, mas as pessoas da sala de jantar continuam ocupadas em nascer, morrer e manter o status quo. Bem, talvez não se preocupem mais tanto sobre o fato de morrer, pois apesar do número de mortos no Brasil ter praticamente atingido os 80 mil, os parques permanecem cheios de gente, o comércio quer, enlouquecidamente, abrir, criaturas circulam pelas ruas para além da necessidade e uma boa parte delas sem máscara e há ainda os que fazem churrascada, reúnem os amigos e frequentam bares e botecos. Associado a isso descobre-se muito rapidamente que quem manda realmente, em tudo, é o vil metal. Vale mais abrir leitos nos hospitais do que pensar em salvar vidas enquanto ainda há tempo. E nem vou citar aqui as discussões sobre tal medicamento ter ou não comprovação científica. O novo normal (que também já não aguento mais ouvir falar) é o velho desde sempre. Nada mudou. Quando a música Panis et circenses foi lançada, faz mais de 50 anos, o Brasil vivia numa espécie de Idade Média. Era deflagrada a ditadura militar, corrupção em massa, perseguição aos veículos de comunicação, banalização do discurso da violência e então chegaram os Mutantes e dispararam o fuzil da semiótica. Foi uma época de ouro. A Tropicália foi um manifesto raro e revolucionário. Um avesso.
Opinião
Adriana Antunes: a caquistocracia e os Mutantes
Muito tempo se passou desde o lançamento, mas as pessoas da sala de jantar continuam ocupadas em nascer, morrer e manter o status quo
Adriana Antunes
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