A previsão de chuva para a manhã deste domingo (28) não se confirmou em Passo Fundo, para alegria dos milhares de fiéis que participaram da 63ª edição da procissão de São Cristóvão. O santo é padroeiro de motoristas e agricultores, que percorreram o caminho de cerca de nove quilômetros entre o bairro Boqueirão e a Igreja Matriz da cidade, no norte do RS.
Há mais de seis décadas, a festa acontece tradicionalmente sempre no quarto domingo de julho. Em dezembro do ano passado, a procissão de São Cristóvão se tornou patrimônio cultural imaterial de Passo Fundo, uma iniciativa de Legislativo e Executivo municipais.
Ao fim do percurso, na chegada ao santuário padres e ministros da paróquia receberam os participantes com água benta. A estimativa é de que cerca de 5 mil veículos tenham sido abençoados.
Quem participou deste momento foi Endrigo Alessandro Rosa, 47 anos, um dos centenas de voluntários que auxiliaram na organização da procissão. Para ele, que também trabalha na estrada, o momento é de renovar a proteção, em especial para os motoristas.
— Existe uma devoção a São Cristóvão de todas as pessoas que se envolvem no trabalho, principalmente os profissionais da estrada. Eu acredito que esse é um momento de buscar um refúgio e uma esperança em algo maior, pra que se viva com segurança na profissão — afirmou.
Uma crença que se renova a cada ano e é passada entre gerações, como comentou o padre da Paróquia São Cristóvão, Vanderlei Bervian. Para ele, são valores ensinados e vivenciados em família, por quem acredita no “ser superior”.
— Isso é bonito quando a gente percebe que acontece a sucessão. A gente vê famílias inteiras: o pai é o motorista, traz a mãe e os filhos. Ou o avô que traz os netos — comentou.
Patrimônio imaterial
A proposição para que a procissão de São Cristóvão se tornasse um patrimônio de Passo Fundo surpreendeu a paróquia de forma positiva, comentou o padre Vanderlei Bervian. Para o pároco, o reconhecimento reflete o envolvimento da comunidade nas ações, que inclui até mesmo quem não é católico.
— Reconhece um patrimônio imaterial, né? Não é um edifício, não é uma estátua, mas são pessoas. É uma fé vivenciada que as pessoas cultuam, o que eu acho mais bonito — resumiu o padre.
São Cristóvão não é apenas o padroeiro da Igreja Matriz, mas também de toda a paróquia que abrange 22 comunidades. Mais da metade delas estão na zona rural de Passo Fundo, por isso também a ligação com os agricultores.
Como forma de homenagear essa união, na missa realizada após a procissão, crianças representando cada uma das comunidades entraram vestidas de santos na celebração. Ao fim da missa, realizada às 10h, os fiéis puderam retirar o seu kit churrasco, outra tradição da festa de mais de 60 anos.
Segundo o padre, o valor arrecadado com a venda dos almoços vai ajudar a custear ações sociais da paróquia, além da manutenção da estrutura da igreja. E para garantir os quase 900 espetos, o trabalho dos voluntários começou nas primeiras horas da manhã.
— É um trabalho cansativo, mas é um momento de doação, que a gente ajuda e ao mesmo tempo é ajudado — afirmou o voluntário Paulo Rogério Las, 65 anos.
Para ele, a festa simboliza a confraternização entre cidade e interior. Um momento de agradecimento ao trabalho de cada motorista e agricultor, além da união da comunidade através da solidariedade.