Por Klaus Riffel, fundador e CEO da DOC9
Quando criamos uma plataforma de apoio aos abrigos no Estado, inspirados pelo relato de um sócio sobre o caos no fluxo de doações, jamais pensávamos em alcançar milhões de acessos, quase 800 abrigos cadastrados e mais de 4 mil toneladas de doações escoadas. Um verdadeiro show de solidariedade.
Porém, as doações estão diminuindo e as necessidades básicas começam a não ser atendidas. Comida, roupas e outros itens essenciais estão cada vez mais escassos em alguns abrigos. Identificamos dois grandes problemas: a diminuição do voluntariado e a falta de entendimento entre os entes públicos.
Sobre o primeiro ponto, é natural que, em momentos de catástrofe, muitas pessoas abdiquem de suas rotinas para ajudar, especialmente porque suas próprias atividades foram afetadas. Com o passar dos dias, é inevitável que precisemos voltar aos nossos afazeres.
Com a queda natural da força voluntária, evidencia-se o problema principal: a incapacidade de agentes e órgãos públicos de dialogar
Com a queda da força voluntária, evidencia-se o problema principal: a incapacidade de agentes públicos de dialogar. Visitei gabinetes de guerra, secretarias e líderes de cada esfera administrativa, e o resultado foi o mesmo: estratégias voltadas para seus próprios interesses, sem levar em consideração o que os demais estão fazendo.
Um exemplo claro é a logística de distribuição de doações. Governos federal, estadual e municipal têm seus próprios agentes e centros de distribuição. Um desperdício de tempo e dinheiro, considerando que, se todos usassem os mesmos dados, canais e estratégias, teríamos um plano de contingência mais eficaz e econômico.
Após exaustivas tentativas, resolvemos seguir nosso próprio caminho com a iniciativa privada para que a ineficiência pública não afetasse nossa celeridade. Retomamos a velocidade de implementação do projeto e já estamos arrecadando fundos para a contratação de pessoas com maior disponibilidade. A ideia é formar uma equipe remunerada para tratar da demanda dos abrigos e da reconstrução de cidades por todo o Estado.
Em um momento tão complexo, ideais políticos e diferenças partidárias não deveriam se sobrepor às necessidades humanitárias de um povo castigado por sua maior catástrofe. Seguiremos firmes, contando com o apoio civil daqueles que, ao se jogarem em águas sujas, abrigos escuros e verdadeiros lixões a céu aberto, não perguntaram qual era a visão política das pessoas resgatadas ou de seus parceiros de ajuda.
Juntos, unidos pela mesma causa, vamos conectando o Rio Grande à esperança.