Por Marcos Pena Júnior, economista
Vamos ser honestos, quem não gosta daquela vaquinha para participar de uma festa em que acabamos não pagando nada? Coisa boa, não, uma festinha grátis? Dados de pesquisa do Ipsos publicados recentemente no Valor demonstram que 68% dos brasileiros apoiariam um candidato que prometesse reduzir os gastos públicos. Mas se sua promessa for realizar a reforma da Previdência, apenas 28%; e só 21% se a questão for privatizar a Petrobras. O brasileiro parece gostar mesmo da magia do almoço grátis.
Nossas instituições, ao longo do tempo, nos formaram como indivíduos que buscam benefícios indevidos. Somos pessoas que procuram ter os bônus sem, contudo, concordar em arcar com os ônus. Os brasileiros querem que o governo reduza seus gastos, a carga tributária, mas os contribuintes não querem perder a chance de uma aposentadoria aos 55 anos, os produtores agrícolas querem assegurados juros subsidiados e seguem os exemplos. Como uma criança, o brasileiro quer se livrar dos sintomas da doença, mas chora copiosamente para não passar pelo tratamento.
Caso bastante representativo é o de conhecido que costumava ser crítico contumaz de ideias acerca da forte presença do governo na vida dos cidadãos, da pesada carga tributária, da ineficiência estatal generalizada e das empresas estatais gerando distorções no mercado. Essa sua percepção crítica durou até se tornar empregado público. Atualmente detentor de salário e regalias sem comparativo com o setor privado, defende que haveria imenso impacto negativo de uma potencial privatização da empresa na qual trabalha. Será que ele não percebe que está rifando o futuro do país, que, a se manter nesse caminho, continuará com insuficientes oportunidades de empreendimento e emprego quando seus filhos terão de lidar com a vida?
Nos damos conta dos sintomas, intuímos a doença, mas quando a possibilidade do remédio amargo nos é colocada, nos recusamos a tomá-lo. Quando um candidato defende ideias para a redução do peso do Estado, não lhe asseguramos apoio. É urgente reduzirmos o espectro de ações públicas e os gastos governamentais.