A possibilidade de o Congresso elevar em quase 50% o valor do novo fundo eleitoral público para financiamento de campanhas não tem como ser aceita pelos brasileiros. E essa é uma perspectiva real, se prevalecer a intenção do deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator da frustrada reforma política na Câmara, de elevar de R$ 2,18 bilhões, na proposta original, para no mínimo R$ 3 bilhões o valor para o financiamento de 35 partidos em atividade no país. Os contribuintes não podem permitir que essa verdadeira afronta eleitoral avance.
Democracia custa caro e campanhas precisam de recursos, mas não nos volumes que vinham sendo carreados até agora, a ponto de darem margem a todo tipo de deformação. E quem garante que, mesmo com mais verbas públicas para essa área, as doações via caixa 2 e à base de propina deixarão de ocorrer? Pela proposta em discussão na Câmara, o montante seria acrescido ainda de pelo menos R$ 820 milhões do fundo partidário, hoje a principal fonte de financiamento das legendas, desde que as empresas ficaram impedidas de contribuir a partir de 2015.
Ainda que tenha defensores respeitáveis, o aumento de verbas públicas para financiar campanhas não pode ser aceito. Os brasileiros precisam ficar atentos para que a intenção não prospere no Congresso. Os líderes partidários fariam melhor se enfrentassem de vez as mazelas da política brasileira, que são em grande número. Diante das dificuldades de aprovar uma reforma realmente eficaz para o país, devido à crise política, o que se constata é os parlamentares mais preocupados em se autofinanciarem, canalizando para si recursos que poderiam ser aplicados em áreas desassistidas pelo poder público.
Uma das questões centrais é justamente o excessivo número de agremiações, muitas delas de aluguel e sem qualquer outra pretensão a não ser a de se beneficiarem de verbas públicas. Os políticos fariam melhor também se abrissem mão do interesse predominante em ganhos fáceis e excessivos, exigindo maior rigor na fiscalização dos recursos. Esse é o momento de o país se preocupar mais com a realização de campanhas menos dispendiosas, mais sintonizadas com uma situação de crise.