Ainda ecoa em mim a absurda vaia que Gilberto Schwartsmann, presidente da Bienal do Mercosul, recebeu na escadaria da igreja das Dores. Na belíssima apresentação, presente à cidade no dia do aniversário de Porto Alegre, Gilberto foi interrompido várias vezes durante seu discurso de agradecimento aos patrocinadores que haviam viabilizado a realização gratuita do concerto. Seguiu até o fim com dignidade exemplar e elogiou quem deveria elogiar. Políticos ali presentes receberam idêntico tratamento. Testemunhei cenas sem lastro algum de educação e bom senso. Gente histérica gritando histericamente. É no grito que agora iremos resolver nossos problemas coletivos? Por divergências ideológicas vamos implantar a irracionalidade acusatória como parâmetro de diálogo cívico? Evidentemente não.
Mesmo a melhor imprensa tem ecoado reverberações dessa ordem. Interpretações impressionistas e bem-intencionadas não deveriam substituir fatos. Meu amigo Carpinejar, ao prantear a morte de João Gilberto Noll, escreveu crônica onde somente a emoção da perda inesperada justifica algumas de suas afirmações. Cobra a ausência de autoridades no enterro. No que me diz respeito, passei boa parte da manhã no velório, conversando com a família do Noll. Nunca me passaria pela cabeça divulgar minha presença em função de estar ocupando cargo público. Fui lá, como amigo e admirador de João. Só.
O respeitável Flávio Tavares, aqui na Zero Hora, escreveu diretamente ao prefeito Marchezan um longo inventário de cobranças; algumas já resolvidas, outras em evidente implantação. A fonte Talavera, usada como símbolo de sujeira e abandono, há pelo menos um mês está totalmente limpa, grama cortada, tudo bonito. Cobranças são bem-vindas e devem servir de parâmetro aos governantes. Mas negar ou desconhecer o trabalho desenvolvido pelo Executivo, não me parece adequado às soluções que precisamos.
Para voltar à normalidade das atividades públicas, acredito num verso ainda atual: "Vamos precisar de todo mundo. Um mais um é sempre mais que dois."