Se os sentimentos dos brasileiros em relação aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro fossem expressos na simbologia do pódio, poderíamos nos autoconceder a medalha de bronze em questões que não chegaram a comprometer o evento, prata em organização e um ouro inquestionável em autoestima. O Brasil sai dessa experiência olímpica bem melhor do que entrou e muito acima das expectativas internacionais, que oscilaram do desastre preanunciado para o sucesso inequívoco na medida em que a competição avançou. Ao final, ficou a sensação de dever cumprido e o orgulho de constatar que somos, sim, capazes de fazer bem as coisas e que podemos até mesmo transferir o êxito da experiência olímpica para áreas essenciais ao desenvolvimento do país.
O público brasileiro se comportou muito bem, superando com alegria, hospitalidade e espírito festivo indelicadezas isoladas, como a manifestação infeliz do prefeito da cidade sobre as reclamações dos australianos ou mesmo as vaias inoportunas para o atleta francês que competia com o brasileiro no salto com vara. Para compensar, a torcida inteira do Maracanã aplaudiu o time alemão na entrega das medalhas do futebol – exemplo claro de reconhecimento, aprendizado e adaptação ao espírito olímpico.
Em relação ao planejamento e à organização da Olimpíada, beliscamos o ouro. Mesmo que algumas acomodações da Vila Olímpica tenham sido entregues sem estarem completamente concluídas (daí a reclamação dos australianos) e que tenha havido filas e falta de alimentos na largada, todos os problemas foram superados rapidamente. Tudo funcionou: segurança, transporte, áreas de lazer, acomodações para os atletas, estádios confortáveis e informações aos visitantes. O Rio construiu um Parque Olímpico tão bom quanto os demais, ampliou a linha do metrô, implantou o VLT e os BRTs, urbanizou a área do Engenhão, revitalizou o porto e deixa uma infraestrutura qualificada para uso dos cariocas.
Encerrado o evento, sem grandes incidentes e com o reconhecimento da mídia internacional, fica como maior legado a recuperação da autoestima do povo brasileiro, abalada por conta da crise política e econômica, da corrupção e do desemprego. Evidentemente, o sucesso dos Jogos Olímpicos não resolve tais problemas. Mas comprova que os brasileiros podem aproveitar o conhecimento adquirido para planejar e executar um novo país. Podem aproveitar o exemplo do esporte, que transforma pessoas humildes em grandes campeões, como evidenciaram muitos dos nossos medalhistas, para enfrentar mazelas crônicas como a violência, o tráfico de drogas, as deficiências de educação, saúde e segurança.
Com esforço, criatividade, trabalho coletivo e tenacidade, os brasileiros conquistaram nestes Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro um valor mais precioso do que as medalhas dos vencedores: a confiança de que somos capazes de reconstruir um país digno para todos.