Agora está fácil. Aposto que você está com o peito cheio de orgulho. Mas você só ficou assim depois de ganhar um ouro? De curar a ferida do 7x1? Isso é moleza.
Difícil foi acreditar que seria possível uma Olimpíada no Brasil. Praticamente reconstruir uma cidade, conviver com o imponderável das obras e ter nuvens de incertezas como zika, terrorismo e violência urbana sobre nossas cabeças. Difícil foi tomar a decisão de trazer o evento (sim, agradeça ao Lula) e também de patrociná-lo, aguentando firme, mesmo com notícias aterrorizantes na imprensa internacional. Difícil foi seguir em frente, investindo milhões da sua verba de marketing em um único evento que, até então, era apenas a possibilidade de um sonho bom. Um evento que, até começar, não tinha clima. Isso sim é ter coragem.
Não é por acaso que a palavra vem do latim coraticum, derivado de "cor", coração. Antigamente, esse era o órgão considerado a sede da coragem, além da inteligência. Mas como agir com o coração em um mundo de performance, onde tudo tem que ser medido e explicado em detalhes e, de preferência, ter certificado de ISO SUCESSO 100%? Sim, correr riscos hoje em dia é para os fortes. Esses que agora respiram aliviados porque tudo terminou bem.
Até quem não correu risco algum respira aliviado. Porque essa Olimpíada foi uma explosão de Brasil. Do Brasil que dá certo, do Brasil da alegria, do respeito, do transporte que funcionou, da segurança que não desapontou, da Copacabana que abraçou, do Cristo que abençoou. De uma abertura extasiante a um final de ouro, estamos todos de alma lavada. Espinha ereta. Cabeça erguida. Mas confesso que tenho medo do "agora em diante". Não queria que a Olimpíada terminasse e levasse nossa capacidade de lidar com imprevistos, de gerir crises, de reconhecer a superação, de competir e cooperar, de vencer. Sem roubo, com ética. Não lembro da última vez em que pensei no Brasil com tanto carinho e orgulho, sem vontade de ir embora, sem vergonha de suas lideranças. Ser o Brasil da vitória merecida me fez esquecer da corrupção e dos sanguessugas.
Nestes dias, o exemplo foi simples: dá duro, vence. Se prepara, vence. Compete com talento e esforço, é ouro. Tem alguém mais preparado que você? Prata. E o bronze também se comemora. Este é o legado, Brasil: o exemplo. Chega de esquema, você é bom demais para ser só um jeitinho. Pega o que é seu por merecimento. Neste mundão afora, você mostrou que pode subir no pódio. É só respeitar a regra do jogo e dar o seu melhor.